Milhares de civis fugiram dos bombardeios do governo sírio nas zonas controladas pelos rebeldes no sul do país em guerra nesses últimos dias, temendo uma ofensiva militar de ampla envergadura.

Essa escalada acontece no momento em que a zona meridional da Síria, que inclui as províncias de Deraa, Quneitra e Soueida, observa um cessar-fogo desde julho de 2017, a favor de um acordo entre Rússia, Jordânia e Estados Unidos.

Este seguiu os passos para um acordo entre Moscou, Teerã e Ancara sobre a criação de quatro zonas de desescalada na Síria, incluindo o sul.

Segundo o Observatório dos Direitos Humanos (OSDH), desde terça-feira (19), mais de 12.000 sírios deixaram localidades situadas no leste da província de Deraa, controlada majoritariamente pelos rebeldes e alvo de bombardeios das forças leais a Bashar al-Assad.

“Pelo terceiro dia consecutivo, milhares de sírios fugiram (…) em meio à intensificação de tiros de artilharia e de ataques aéreos das forças leais (ao governo)”, declarou o diretor do OSDH, Rami Abdel Rahman.

“Eles se dirigem para localidades a salvo dos bombardeios, que são próximas da fronteira jordaniana”, acrescentou.

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Deraa fica não muito distante da Colina de Golã no lado sírio. Uma ampla parte desse território é ocupada por Israel desde 1967.

Essa província é dividida entre diferentes grupos rebeldes, que controlam quase 70% dessa região, as forças do governo e o grupo Estado Islâmico (EI), que mantém ali uma presença marginal.

Berço dos protestos de março de 2011, Deraa está na mira do regime desde que suas forças asseguraram no mês passado o conjunto da capital e seus arredores, depois da expulsão dos últimos rebeldes e extremistas.

Há negociações em andamento, das quais participam várias potências regionais e internacionais, para determinar o destino desta província, assim como da vizinha Quneitra, controlada em grande parte pelos rebeldes.

O presidente sírio, Bashar al-Assad, assegurou recentemente que a opção militar continua sobre a mesa.

Na semana passada, os Estados Unidos advertiram Damasco sobre uma ação “dura”, em caso de violação do cessar-fogo por parte do regime Assad no sul da Síria.

– Tiros rebeldes –

O Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU afirmou que 2.500 pessoas fugiram até quarta-feira de uma das localidades situadas no leste da província de Deraa.

“Cidades inteiras foram esvaziadas”, disse o militante Mohamad Ibrahim à AFP.

“Milhares de pessoas deixaram suas casas nas localidades de Basr al-Harir, Hirak, Msika, assim como no leste de Maliha por medo dos bombardeios”, relatou.

Segundo a agência oficial de notícias Sana, “a artilharia do Exército sírio lança ataques contra (…) a cidade de Hirak, ao nordeste de Deraa, e sobre a localidade de Basr al-Harir (…) para destruir suas fortificações” construídas pelos grupos rebeldes.


Estes últimos lançaram, na quarta-feira, ataques sobre posições do governo na cidade de Soueida, matando dois civis e ferindo outros três, de acordo com a Sana.

Na terça-feira, pela primeira vez desde o verão 2015, lançam foguetes sobre bairros da cidade controlada pelo governo.

Diante dessa tensão, a ONU manifestou hoje sua “preocupação”, advertindo contra “uma escalada da violência na província de Deraa (…) que põe os civis em perigo e causa o deslocamento de centenas de famílias”.

O governo de Damasco teve uma sequência de vitórias desde a intervenção militar de Moscou no conflito, em setembro de 2015, e controla, agora, mais de 60% do território, segundo o OSDH.


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