Milhares de palestinos fugiram nesta terça-feira (2) de áreas no sul da Faixa de Gaza, após as forças israelenses ordenarem sua evacuação em meio a uma campanha de bombardeios e operações terrestres contra o movimento islamista Hamas.

O Exército israelense ordenou a evacuação de áreas a leste de Khan Yunis e Rafah, na fronteira com o Egito. Embora não tenha anunciado explicitamente uma operação militar, esse tipo de advertência geralmente precede grandes operações desde o início do conflito há quase nove meses.

Pelo menos oito pessoas morreram e 30 ficaram feridas em um bombardeio israelense em Khan Yunis, conforme relatado por uma fonte médica local.

O bombardeio ocorreu após o lançamento de uma série de projéteis em direção a Israel, reivindicado pelo grupo armado Jihad Islâmica, aliado do Hamas que governa Gaza.

As advertências israelenses aumentaram o medo entre os habitantes de Gaza, muitos dos quais foram deslocados várias vezes desde o início da guerra em 7 de outubro.

Multidões de pessoas fugiram a pé, de carro ou em carroças, carregando seus pertences, segundo um fotógrafo da AFP.

A Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA) afirmou que as ordens de evacuação afetam 250 mil pessoas das áreas a leste de Khan Yunis e Rafah.

O Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) indicou que a área a ser evacuada corresponde a uma parte significativa da Faixa de Gaza.

– “Medo e ansiedade extrema” –

O conflito eclodiu em 7 de outubro, quando milicianos islamistas mataram 1.195 pessoas, na maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, de acordo com um levantamento da AFP com base em dados oficiais israelenses.

O Exército israelense estima que 116 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza, das quais 42 teriam falecido.

Em resposta, Israel lançou uma ofensiva em Gaza que já resultou em pelo menos 37.925 mortes, também em sua maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do governo do Hamas, que controla o território desde 2007.

A ordem de evacuação gerou “medo e uma ansiedade extrema”, conforme descreveu Ahmad Al Najjar, de 26 anos, residente em Bani Suheila, na região de Khan Yunis.

Segundo a coordenadora humanitária da ONU para Gaza, Sigrid Kaag, há atualmente 1,9 milhão de deslocados na Faixa de Gaza, o que representa 80% da população.

“A guerra […] desencadeou uma espiral de miséria humana”, afirmou Kaag ao Conselho de Segurança da ONU em Nova York.

Na semana passada, o Exército israelense pediu a evacuação de Shujaiya, um bairro da Cidade de Gaza, no norte da Faixa, onde há combates intensos há seis dias.

Um correspondente da AFP relatou bombardeios de artilharia no norte do território e tiroteios contínuos por testemunhas.

Nas últimas 24 horas, as forças aéreas israelenses “atingiram cerca de 30 alvos” em Gaza, indicou um comunicado militar.

– Eliminar o Hamas –

Testemunhas no centro da Faixa indicaram também bombardeios contra o campo de refugiados de Nuseirat, onde o Crescente Vermelho informou a morte de uma criança.

Mohamed al Jalees, deslocado de Shujaiya a Nuseirat, ajudou a retirar os escombros e na busca por sobreviventes.

“Um míssil atingiu a casa de nossos vizinhos”, contou. “Corremos para ver como estavam e alguns foram resgatados com vida, mas encontramos uma criança mártir”, acrescentou.

As negociações para alcançar um acordo de trégua seguem travadas.

“Nos aproximamos do final da fase de eliminação do exército terrorista do Hamas”, declarou Netanyahu na segunda-feira, após garantir há mais de uma semanas que a fase “intensa” da guerra estava perto do fim.

Netanyahu insistiu nesta terça-feira que Israel não “capitulará diante dos ventos do derrotismo”, reiterando que a guerra continuará até que o Hamas seja eliminado e todos os reféns libertados.

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