Milhares de trabalhadores agrícolas indianos se manifestaram, nesta terça-feira (25), em uma cidade perto de Roma para reivindicar justiça e o fim da “escravidão” na Itália, após a trágica morte de um trabalhador, que trouxe à luz a brutal exploração dos migrantes não registrados.

Satnam Singh, de 31 anos, que trabalhava sem documentação legal, morreu na semana passada depois que uma máquina cortou seu braço. Seu empregador o abandonou à beira da estrada com o membro amputado.

“Ele foi jogado fora como um cachorro. Há exploração, sofremos isso todos os dias, isso precisa parar”, declarou Gurmukh Singh, líder da comunidade indiana na região do Lácio, no centro da Itália. “Viemos aqui para trabalhar, não para morrer”, acrescentou.

A marcha, onde havia faixas com mensagens como “Justiça para Satnam Singh”, percorreu as ruas de Latina, cidade localizada em uma zona rural ao sul de Roma que acolhe dezenas de milhares de trabalhadores indianos.

Desde meados dos anos 1980, indianos trabalham em Agro Pontino, uma antiga zona de pântanos, onde muitos colhem abóbora, alho-poró, feijão e tomate e outros se dedicam à produção de mussarela.

A trágica morte de Satnam Singh, que está sendo investigada, reacendeu o debate na península sobre a luta contra os abusos sistêmicos no setor agrícola, no qual agricultores ou chefes de clãs costumam usar trabalhadores ilegais que são explorados.

Eles recebem em média 20 euros (117 reais) por dia por 14 horas de trabalho, segundo o Observatório Placido Rizzotto, que analisa as condições laborais dos trabalhadores do setor.

A primeira-ministra de extrema direita, Giorgia Meloni, tentou reduzir o número de migrantes sem documentação na Itália, enquanto, por outro lado, ampliava os canais de migração legais para trabalhadores não europeus com o objetivo de combater a escassez de mão de obra.

Mas, segundo a associação agroindustrial Confagricoltura, apenas 30% dos trabalhadores que têm um visto chegam à Itália, o que significa que não há trabalhadores suficientes para atender à demanda dos agricultores.

A polícia financeira italiana identificou cerca de 60 mil trabalhadores sem documentação entre janeiro de 2023 e junho de 2024.

O maior sindicato italiano, a CGIL, estima que até 230 mil pessoas, ou seja, um quarto dos trabalhadores rurais temporários do país, não têm contrato.

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