BUENOS AIRES, 21 ABR (ANSA) – Por Ludovico Mori – Fechar o Banco Central, eliminar a educação e a saúde públicas e liberalizar o comércio de armas e órgãos. Essas são apenas algumas das propostas mais controversas de Javier Milei, o candidato ultraliberal que corre o risco de se tornar o próximo presidente da Argentina e que alguns já batizaram como o “novo Bolsonaro”.   

A seis meses das eleições de outubro, Milei permanece firme entre os três mais bem colocados nas pesquisas, e o establishment está começando a aceitar a possibilidade de que esse outsider, que até dois anos atrás era meramente um fenômeno televisivo, chegue ao governo.   

A crise econômica que a Argentina atravessa, com inflação anual de 104% e o risco permanente de um novo calote, alimenta a frustração do eleitorado e dá asas a figuras emergentes que prometem acabar não só com “a casta política”, mas também com o establishment econômico.   

Justamente para explicar melhor suas propostas, o candidato ultraliberal foi convidado nesta semana a se apresentar diante de um público ultrasseleto de milionários argentinos que se encontram todos os anos em Bariloche, no exclusivo Hotel Llao Llao.   

Com sua característica cabeleira desgrenhada, Milei reiterou a proposta de “dolarizar” a economia como ferramenta para “aniquilar” a inflação, bem como um “primeiro” programa de cortes nos gastos públicos em 13 pontos percentuais do PIB. “Se não fosse o Estado, vocês não seriam os mais ricos da Argentina, mas os mais ricos do mundo”, disse ele, tentando superar o ceticismo dominante.   

Milei já havia tentado seduzir o establishment agrícola ao discursar em um congresso da Sociedade Rural Argentina, que controla o fluxo de dólares das exportações de grãos, prometendo triplicar seu volume de negócios.   

Enquanto isso, o governo peronista está nas cordas por conta da crise e ainda sem candidato – o atual presidente Alberto Fernández acaba de anunciar que não disputará a reeleição -, enquanto a oposição de centro-direita se divide entre duas propostas : a moderada, do prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, e a mais conservadora, da ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich.   

Nesse contexto, o fantasma de um “Bolsonaro argentino” parece ser cada vez mais uma realidade. (ANSA).