O presidente argentino, Javier Milei, enfrenta nesta quarta-feira (24) a primeira greve geral em apenas 45 dias de governo, contra seu rígido ajuste fiscal e um gigantesco plano de reformas de leis e normas há décadas em vigor.

O maior sindicato argentino convocou a greve em repúdio, principalmente, às mudanças decretadas por Milei no regime trabalhista, que limitam o direito à greve e afetam o financiamento dos sindicatos.

As mundialmente famosas organizações Mães e Avós da Praça de Maio, sindicatos e organizações de direitos humanos de todo o país aderiram à greve.

“É uma forma de apoiar esta decisão do povo de organizar um protesto e chamar a atenção para a situação que vivemos com este governo tão estranho”, disse a presidente das Avós, Estela De Carlotto, na terça-feira (23).

Organizações cidadãs e sindicais de todo o mundo também se mobilizaram a favor dos manifestantes argentinos.

No Uruguai, o PIT-CNT, único sindicato de trabalhadores, convocou uma manifestação de repúdio às “medidas antipopulares” de Milei, “que ameaçam a vida, os direitos e a liberdade dos trabalhadores e do povo argentino”.

Também estão previstos eventos de apoio em Madri, Londres, Berlim e Paris, entre outras cidades.

A greve geral é convocada pela maior central sindical da Argentina, a Confederação Geral do Trabalho (CGT), de orientação peronista, e recebeu o apoio da Confederação de Trabalhadores Argentinos (CTA), a segunda maior.

– Primeiro desafio –

Será a primeira manifestação nacional contra o governo e suas drásticas medidas para conter uma inflação anual de 211%, um recorde em 30 anos.

Em dezembro, em termos interanuais, o consumo caiu 13,7%, e a produção nas pequenas indústrias, 26,9%, segundo a câmara empresarial CAME.

Além disso, a desvalorização de 50% e a liberação dos preços dos combustíveis, entre outras decisões de Milei, reduziram drasticamente o poder de compra dos trabalhadores e aposentados, e a insatisfação foi parar nas ruas.

Diversas pesquisas mostram, no entanto, que o presidente mantém uma imagem positiva entre 47% e 55%.

A greve durará 12 horas a partir do meio-dia e começará com uma marcha da sede da CGT, a poucos quarteirões da Praça de Maio, até o Congresso.

“O que a greve de quarta-feira vai mostrar é que há duas Argentinas. Há uma Argentina que quer ficar para trás, no passado, na decadência”, disse Milei esta semana.

– Serviços essenciais –

O mega Decreto de Necessidade e Urgência (DNU), com 366 artigos, introduz várias mudanças na antiga e consolidada legislação trabalhista argentina, em especial sobre o direito à greve.

Milei exige coberturas mínimas de 75% em serviços essenciais como educação, transporte e alimentação, entre outros, e incentiva demissões de grevistas por justa causa.

O DNU também regulamenta assembleias trabalhistas, condiciona a arrecadação de fundos sindicais e reduz indenizações por demissão.

A CGT questionou a constitucionalidade do capítulo trabalhista do megadecreto na Justiça, que suspendeu seus efeitos provisoriamente. O governo recorreu da decisão, e o caso foi elevado à Suprema Corte, atualmente em recesso.

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