No último fim de semana, a escória da política mundial se encontrou em Madri, na Espanha. Integrantes da extrema-direita reuniram-se a convite do partido Vox, liderado por Santiago Abascal. O ex-deputado de Bilbao é um radical cujo avô foi aliado do ditador Francisco Franco e que, entre as sandices que costuma propagar, está o ataque aos ecologistas e a defesa da masculinidade contra as feministas. Se a internet “não tivesse dado voz a uma legião de imbecis”, como bem disse Umberto Eco, Abascal seria apenas o maluco da aldeia e não provocaria muito estrago.

O problema é que vivemos tempos sombrios, em que a ignorância é valorizada e até as ideias mais estúpidas e mentirosas encontram seu público — a maior prova disso é que havia bastante gente no tal evento espanhol.

Foram assistir aos “astros da ultra-direita”: Marine Le Pen, da França, Viktor Orbán, da Hungria, e Javier Milei, da Argentina. É um belo “Time do Pesadelo”, o oposto do Dream Team. Donald Trump, o herói da gangue, não compareceu. Não pode viajar porque está sendo julgado por ter comprado o silêncio de uma atriz pornô com verba da campanha presidencial. Ter um ídolo como Trump diz bastante sobre o nível dessa turma.

Na vida real, os argentinos não conseguem comprar comida. Mas o mercado e a extrema-direita estão tranquilos: nas planilhas de Excel vai tudo bem

Milei foi aplaudido de pé. O argentino é idolatrado por criticar a esquerda e por ter implementado um “bem-sucedido” plano econômico em seu país. Seu projeto obteve o primeiro superávit fiscal do País desde 2008, o que lhe rendeu aplausos do FMI e elogios dos economistas alinhados aos mercados. Mas não sei se a população argentina tem motivos para sorrir.

A desvalorização do peso frente ao dólar fez o peso derreter. O salário mínimo vale US$ 160, menos de R$ 800. Os planos de saúde aumentaram 100%; a eletricidade, 150%; o transporte público, 200%. Mais da metade dos argentinos (55%) são pobres e há 20% de indigentes. Os dados são do Observatório da Dívida Social da Universidade Católica Argentina. A inflação caiu? Sim, porque o país parou. A situação já era grave antes de Milei, mas, na ânsia de agradar os comparsas e alimentar seu enorme ego, ele está destruindo o já desgastado tecido social argentino. Decisões difíceis seriam necessárias, mas suas opções têm requintes de crueldade: mesmo vendo o preço dos alimentos explodir, seu governo cortou o subsídio de 40 mil restaurantes populares. Na vida real, o povo passa fome. Mas o mercado e a extrema-direita estão tranquilos: nas planilhas de Excel vai tudo muito bem.