Milão ou Sicília? A disputa pela verdadeira origem do panetone

ROMA, 9 DEZ (ANSA) – Todo Natal, ele retorna à mesa dos italianos e de cidadãos espalhados pelo mundo todo como um símbolo incontestável das festas de fim de ano. Mas e se o panetone, hoje tratado como tesouro de Milão, tivesse na verdade raízes profundas na Sicília? Histórias antigas, lendas conflitantes e novas interpretações gastronômicas impulsionam o debate sobre a verdadeira origem do mais famoso bolo fermentado italiano.   

A narrativa oficial mais conhecida situa o nascimento do panetone na Milão do século XV, durante o reinado de Ludovico il Moro. A história gira em torno do chefe de cozinha do duque, encarregado de preparar um almoço de Natal luxuoso no Castelo Sforza, para o qual muitos nobres e figuras ilustres haviam sido convidados, que teria queimado a sobremesa oficial, em 1495.   

No entanto, um criado, Toni, sugeriu que o chefe de cozinha servisse aos convidados um “pão” que ele mesmo havia assado com o que encontrara na despensa, incluindo raspas de limão e passas.   

O doce improvisado conquistou a corte. Ao ser questionado pelo duque sobre o nome da sobremesa, o chef teria respondido: “É o pão do Toni.” Nascia ali, segundo a tradição, o panetone.   

Mas há outra versão ? mais antiga e geograficamente distante. De acordo com fontes históricas citadas por estudiosos da gastronomia siciliana, o verdadeiro precursor do panetone teria surgido em 1311, em Montalbano Elicona, uma cidade na província de Messina.   

Lá se produzia o “Marzapanettum”, um pão doce fermentado com passas, mel e amêndoas torradas. Um século antes da história milanesa, este doce seria, para muitos, o autêntico “ancestral” do panetone moderno.   

Na Sicília, a herança do Marzapanettum nunca se perdeu completamente. E é precisamente essa história que inspira o panetone artesanal produzido em Modica pela oficina Marzapani, comandada por Peppe Flamingo e sua equipe.   

O mestre gelateiro e chef confeiteiro afirma que as criações “são 100% artesanais e caseiras, desde a massa (com fermento natural cultivado em água por mais de 100 anos e farinhas de grãos sicilianos moídas em pedra), até as frutas cristalizadas e os cremes, todos feitos com ingredientes agrícolas”.   

“A essência siciliana, além da referência às origens de ‘Marzapanettum’, é evocada pelo sabor: assim como os grandes pratos da culinária siciliana ? como a pasta alla Norma ou o arancino ? são uma verdadeira explosão de sabores bem definidos”, concluiu Flamingo, destacando que os “panetones se caracterizam por um sabor autêntico, encorpado e intenso”.   

(ANSA).