“Se não estão aqui por um caso de detenção, levantem a mão”. Um monte de braços são levantados no tribunal de imigração de Arlington, perto de Washington. “Suas audiências foram canceladas pelo ‘shutdown’, podem ir para casa”, explica a funcionária, em inglês e espanhol.

Desde 22 de dezembro, parte dos escritórios do governo federal dos Estados Unidos estão paralisados por falta de acordo entre o presidente Donald Trump e a oposição democrata sobre a inclusão no orçamento de 5,7 bilhão de dólares que o mandatário requer para construir um muro na fronteira com o México.

Paradoxalmente, o conflito, que no fundo trata da forma de responder à chegada de imigrantes ao país, debilita um pilar central da política migratória: os 62 tribunais especializados nos casos de estrangeiros em situação irregular, já normalmente sobrecarregados.

Desde o início do bloqueio orçamentário, seus juízes só analisam os casos “urgentes”, de migrantes detidos. Todas as demais audiências foram suspensas e os secretários judiciais não estão enviando notificações.

Na manhã de quinta-feira, dezenas de migrantes, em sua maioria da América Central, se espremiam no pequeno vestíbulo principal do tribunal de Arlington, em Virgínia.

Alguns sabiam que suas audiências não seriam realizadas, mas pretendiam conseguir alguma informação útil sobre os passos a seguir em seus casos. Outros ficaram sabendo quando a administradora do tribunal veio falar com o grupo.

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“Fizemos uma longa viagem, tivemos de reservar um quarto de hotel, minha filha faltou a escola”, explicou uma mulher salvadorenha, que preferiu não dar seu nome.

Sob a ameaça de uma expulsão, ela apresentou há mais de um ano uma solicitação de naturalização baseando-se no fato de que sua filha e seu marido são americanos, e esperava pôr fim a um episódio que angustiou toda a família.

“É duro saber que sua mãe pode ter que te deixar”, disse sua filha de 11 anos.

– “Esgotante emocionalmente” –

A situação é particularmente difícil para as crianças, segundo Jen Podkul, da associação Kind, que ajuda migrantes menores de idade. “Preparar estas crianças para que contem suas histórias é muito intenso, há muita ansiedade e muito nervosismo na ideia de ir ao tribunal. O fato de que suas audiências sejam reagendadas é muito esgotante emocionalmente” para elas.

“Também deixa estas pobres crianças no limbo por mais tempo em relação ao que será de suas vidas. É difícil para elas ir à escola, se integrar na comunidade e na família com que estão vivendo sem saber se vão poder ficar”, acrescenta.

Enquanto durar o ‘shutdown’, as audiências não poderão ser reagendadas. E depois será necessário encontrar um tempo para suas audiências em tribunais que já estão à beira da asfixia.

Pouco mais de 800.000 casos estão pendentes de ser resolvidos nos tribunais de imigração, onde trabalham cerca de 400 juízes, explica à AFP Ashley Tabaddor, presidente da associação nacional de juízes de imigração.

“Tenho uma colega que tem 5.000 casos em espera, programados para os próximos dois ou três anos”, afirma.

Algumas audiências, sobretudo no início de um procedimento, não duram mais que cinco minutos e provavelmente serão reprogramadas com facilidade. Mas a revisão a fundo dos casos leva “de duas a três horas”, explica Ana Sami, uma advogada especializada em temas migratórios. “Vai ser difícil para um juiz encontrar esse tempo”.

Vão atrasar todos seus calendários ou programar as audiências canceladas para os próximos meses? “Não sabemos”, lamenta a advogada, destacando que durante esse tempo os migrantes não encontrarão “alívio”, pois “podem ser detidos a qualquer momento”.



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