Caminhando até a exaustão, centenas de migrantes africanos entram todos os dias na Líbia, depois de terem sido abandonados na fronteira, no meio do deserto, pelas forças de segurança tunisianas, segundo os seus depoimentos e os da Guarda fronteiriça da Líbia.

Cem migrantes foram resgatados por guardas líbios no domingo (30), enquanto vagavam em uma zona árida desabitada perto de Sebjat al Magta, um lago salgado, ao longo da fronteira entre Tunísia e Líbia, observou uma equipe da AFP.

É meio-dia, o calor está insuportável e passa dos 40 graus. Uma patrulha encontra um homem desmaiado e tenta reanimá-lo derramando algumas gotas de água em seus lábios. Ele quase não respira.

Seis pessoas caminham ao longe. Alguns minutos depois, esses migrantes explicam em árabe que vêm da Tunísia.

Por cerca de duas semanas, os guardas de fronteira líbios dizem ter resgatado centenas de migrantes, abandonados na fronteira, segundo eles, pelas autoridades tunisianas, perto da cidade de Al Assah, 150 quilômetros ao sudoeste de Trípoli.

Após confrontos entre migrantes e moradores, que causaram a morte de um tunisiano em 3 de julho, centenas de africanos subsaarianos foram expulsos de Sfax, principal ponto de partida na Tunísia para a migração clandestina para a Europa.

– Desmaiam, exaustos –

Segundo a ONG Human Rights Watch, pelo menos “1.200 cidadãos subsaarianos” foram “expulsos” pelas forças de segurança da Tunísia para as fronteiras com a Líbia, ao leste, e com a Argélia, ao oeste.

O Crescente Vermelho tunisiano hospedou mais de 600 em Ras Jedir, uma área que separa a Tunísia da Líbia, e outros 200 no lado argelino.

Perto de Al Assah, 40 quilômetros ao sul de Ras Jedir, os migrantes continuam chegando, desorientados, em grupos de dois ou três, ou em dezenas. Exaustos pelo calor e pela sede, desmaiam aos pés dos guardas.

“Estamos na linha de demarcação entre a Líbia e a Tunísia e vemos cada vez mais migrantes chegando todos os dias”, explica Ali Wali, porta-voz da unidade militar líbia do Batalhão 19.

Em seu raio de ação de 15 quilômetros ao redor de Al Assah, eles recuperam, “dependendo do dia, 150, 200, 350 e às vezes até 400/500 clandestinos”, diz ele.

Desta vez são 110, incluindo duas mulheres. Outras duas, mencionadas por um migrante, não foram encontradas.

Os sobreviventes cruzaram a fronteira sem saber, caminhando na direção indicada pela polícia tunisiana: a Líbia.

– Dois dias de caminhada –

Haytham Yahiya é sudanês. Ele trabalhava há um ano no setor de construção na Tunísia, onde chegou clandestinamente pelo Níger e pela Argélia.

“Eu estava no trabalho quando me pegaram e me trouxeram para cá. Primeiro, em um carro da polícia; depois, em um caminhão militar; e depois me abandonaram, mandando-me ir para a Líbia”, conta.

Sob um sol escaldante, sem água e sem comida, alguns deles “caminharam por dois dias”.

É o caso de Alexander Unche Okolo, que chegou ilegalmente “à Tunísia através da Argélia”. Passou pouco tempo na capital, quando recentemente foi “detido na rua” e depois “levado para o deserto do Saara”, explica este nigeriano, de 41 anos.

Ainda abalado, ele mostra a tela do celular: “quebraram e me bateram”, diz.

Segundo o porta-voz militar Wali, no sábado “foram encontrados dois corpos e, dois dias antes, outros cinco, incluindo o de uma mulher e seu bebê, além de outros cinco encontrados há uma semana”.

“Como você quer que eles sobrevivam a isso? Com o calor, sem água e caminhando dois, três dias”, exclama.

Segundo as organizações humanitárias na Líbia, contatadas pela AFP, o saldo é de pelo menos 17 mortos nas últimas três semanas.

Em Ras Jedir, cerca de 350 migrantes sobrevivem em um acampamento precário, incluindo 65 crianças e 12 mulheres grávidas.

“Suas condições de vida são muito problemáticas”, explica um funcionário humanitário na Líbia. Outros 180 migrantes, incluindo cerca de 20 menores, receberam alojamento temporário em Al Assah, acrescenta.

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