A republicana Michelle O’Neill foi designada, neste sábado (3), como chefe de governo da Irlanda do Norte, tornando-se a primeira partidária da unificação irlandesa a assumir as rédeas dessa região britânica marcada por décadas de um sangrento conflito.

O’Neill, de 47 anos, foi nomeada pelo Parlamento de Stormont, em Belfast, que retomou suas atividades após dois anos de uma paralisia causada pelo descontentamento dos unionistas pró-britânicos com as disposições comerciais acordadas após o Brexit.

“É um dia histórico, e isso representa uma nova era”, disse O’Neill, vice-presidente do Sinn Fein, antigo braço político da organização paramilitar IRA (Exército Republicano Irlandês), após sua nomeação.

Pouco antes, na rede social X, ela havia dito estar “determinada a levar adiante uma mudança positiva para todos e trabalhar junto com os demais para fazer nossa sociedade avançar no respeito, na cooperação e na igualdade”.

O Parlamento norte-irlandês retomou suas atividades depois que o Partido Democrático Unionista (DUP), principal legenda pró-britânica, chegou a um acordo com o governo do primeiro-ministro conservador do Reino Unido, Rishi Sunak.

O DUP se retirou do governo e do Parlamento da Irlanda do Norte em 2022 para protestar contra os controles aduaneiros impostos no âmbito do Brexit aos produtos provenientes do restante do Reino Unido.

Segundo os unionistas, a medida enfraquecia os laços desta região com Londres e favorecia os defensores de uma unificação com a República da Irlanda, que ocupa a parte sul da ilha e faz parte da União Europeia.

O Sinn Fein, partido nacionalista republicano de esquerda, venceu em maio de 2022, pela primeira vez na história, as eleições na Irlanda do Norte, uma das quatro regiões administrativas do Reino Unido, junto com Inglaterra, País de Gales e Escócia.

– Bloqueio de unionistas –

Mas o bloqueio do DUP impediu O’Neill de assumir o cargo de ministra principal.

Stormont, o Parlamento de Belfast, criado para garantir um equilíbrio entre os unionistas pró-britânicos e os nacionalistas republicanos, precisa de ambas as comunidades, que compartilham o poder na assembleia e no Executivo.

O acordo alcançado deverá permitir reduzir os controles e as formalidades administrativas para as mercadorias que entram na Irlanda do Norte procedentes da Grã-Bretanha.

Esta “solução” será apresentada na próxima reunião do comitê conjunto UE-Reino Unido.

Vinte e cinco anos após o fim do conflito norte-irlandês, que deixou mais de 3.500 mortos, a saída do Reino Unido da UE em 2020 fez ressurgirem tensões entre as comunidades da Irlanda do Norte.

– Nova geração republicana –

Michelle O’Neill cresceu entre fervorosos defensores da união das duas Irlandas.

Seu pai esteve preso por ser membro do IRA, e um de seus primos, também também membro do grupo separatista armado, morreu em um confronto com o Exército britânico em 1991.

Mas O’Neill encarna uma nova geração, que entrou na política depois do acordo de paz da Sexta-Feira Santa de 1998. Esse pacto pôs fim a três décadas de confrontos sangrentos entre nacionalistas católicos e unionistas protestantes.

Rompendo a tradição republicana, O’Neill compareceu ao funeral da rainha Elizabeth II em setembro de 2022 e depois à coroação de Charles III em maio de 2023.

– Agenda social –

Em 2022, ela venceu as eleições, priorizando questões do cotidiano, como a melhoria dos serviços de saúde, e deixando em segundo plano o objetivo histórico do Sinn Fein – a reunificação da Irlanda.

O’Neill acredita que o Brexit cria a possibilidade de uma Irlanda unida e, em 2017, previu que isso aconteceria nos próximos dez anos. Mãe aos 16 anos, disse diversas vezes que a experiência tornou-a “mais forte”.

Em 2020, foi eleita vice-ministra principal da Irlanda do Norte no governo liderado pelo DUP, no regime de governo de coalizão, um passo antes de se tornar chefe de governo este sábado.

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