O presidente Michel Temer assinou nesta sexta-feira (14) a extradição do ex-militante de esquerda Cesare Battisti para a Itália, onde foi condenado à prisão perpétua por quatro homicídios nos anos 1970.

“Sim, o presidente de fato assinou a extradição de Cesare Battisti”, condenado à prisão perpétua na Itália por quatro homicídios nos anos 1970, informou à AFP uma fonte da Presidência, confirmando versões da imprensa.

La decisão chega duas semanas antes do fim do mandato de Temer. O presidente será substituído em 1º de janeiro pelo ultradireitista Jair Bolsonaro, que ao longo de sua campanha eleitoral prometeu extraditar Battisti, de 63 anos, residente o Brasil desde 2004, e a quem se refere como “terrorista”.

A ordem de prisão preventiva, pedida pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, foi expedida pelo ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal, para “evitar risco de fuga” e assegurar a extradição.

Nesta sexta-feira, homens da Polícia Federal ativaram uma operação para localizar o ex-ativista, sem que até o momento ele tenha sido encontrado, embora oficialmente tampouco tenha sido declarado foragido.

Pouco antes de ser conhecida a assinatura da extradição, a defesa de Cesare Battisti apresentou um recurso no Supremo pedindo “revisão da decisão” da quinta-feira em uma última tentativa de deter seu envio à Itália, informou à AFP seu advogado Igor San’Anna Tamasauskas.

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Ele afirmou, no entanto, não saber onde estava seu cliente, com quem disse não ter conversado desde o fim do mês passado.

Battisti, que nega as acusações contra ele, foi membro do grupo Proletários Armados pelo Comunismo (PAC) na época em que a Itália vivia nos “anos de chumbo”, marcados principalmente por atentados e sequestros das Brigadas Vermelhas.

O ativista passou três décadas fugindo entre México e França, onde teve uma bem sucedida carreira como escritor de romances policiais, antes de fugir em 2004 para o Brasil. Aqui ele se casou com uma brasileira e teve um filho, nascido em 2013.

Em 2010, a Justiça autorizou sua extradição para a Itália, mas o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu-lhe, um dia antes de concluir seu mandato, o estatuto de refugiado político.

Após a divulgação da notícia, o presidente italiano Sergio Mattarella, expressou seu “vivo reconhecimento” a Temer.

– “Um terrorista assassino”

A extradição de Battisti foi solicitada por todos os governos da Itália, tanto de centro-esquerda quanto de centro-direita.

Voltou a ser tema da atualidade com a ascensão política do presidente eleito Jair Bolsonaro, capitão do Exército na reserva, nostálgico da ditadura militar (1964-85) e um anti-esquerdista veemente.

Após uma cômoda vitória nas urnas em 28 de outubro, Bolsonaro reiterou em várias oportunidades sua postura, em um gesto saudado pelo ministro do Interior e vice-primeiro-ministro ultranacionalista italiano Matteo Salvini.

No entanto, foi Temer, que também tinha se mostrado partidário da extradição, quem assinou a ordem.

Salvini criticou que “um condenado à prisão perpétua desfrute da vida nas praias do Brasil, sob os narizes das vítimas” e afirmou que agradeceria muito a Bolsonaro “se ajuda a Itália a conseguir Justiça”.


Bolsonaro respondeu-lhe depois, com os votos de que fosse solucionado o caso “deste terrorista assassino defendido pelos companheiros de ideais brasileiros”, em alusão aos governos esquerdistas de Lula (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016).


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