Nem Mianmar nem o Afeganistão subiram à tribuna de oradores da Assembleia Geral das Nações Unidas, que concluiu seus trabalhos nesta segunda-feira (27), após levar a Nova York uma centena de líderes mundiais e dezenas de ministros, apesar da pandemia.

No programa inicial da ONU, o debate geral seria concluído com Mianmar, Guiné e Afeganistão. Mas o embaixador do Afeganistão, Ghulam Isaczai, nomeado pelo Executivo do presidente deposto, Ashraf Ghani, retirou-se no último minuto da lista de oradores. E o pedido do novo governo talibã para que seu embaixador tomasse a palavra na tribuna chegou tarde demais.

Pela Guiné, onde uma junta militar assumiu o poder, discursou o embaixador na ONU nomeado pelo Executivo deposto, Aly Diane, mas, no caso de Mianmar, houve “um acordo entre os Estados Unidos, Rússia e China”, para que o representante birmanês do governo deposto, Kyaw Moe Tun, não interviesse, disse confidencialmente o embaixador de uma das três potências.

Desde o golpe militar de 1º de fevereiro, o embaixador nomeado pela líder birmanesa deposta, Aung San Suu Kyi, manteve seu cargo na ONU, com o apoio da comunidade internacional. Em maio, a junta nomeou um ex-militar para substituí-lo, mas não recebeu autorização da ONU.

Sua nomeação, assim como a de um novo representante do regime talibã no Afeganistão, é estudada por uma comissão da ONU composta pelos Estados Unidos, Rússia e China. Se não houver consenso, como é a regra do sistema, “haverá votação”, afirma um responsável da entidade.

Um dos últimos a discursar no fórum multilateral foi o ministro das Relações Exteriores da Nicarágua, representando o presidente, Daniel Ortega, em um contexto de preocupação internacional com a perseguição à oposição antes das eleições de 7 de novembro.

Após defender o acesso de todos às vacinas contra a Covid-19 e a criação de um novo modelo econômico internacional, o ministro nicaraguense afimrou que 15 partidos políticos irão participar do processo eleitoral.

– Certa normalidade –

Após a sessão por videoconferência da Assembleia Geral do ano passado, esta foi híbrida. Cerca de uma centena de delegações chegaram a Nova York, embora com restrições para evitar que o fórum multilateral fosse um novo foco de covid-19. Até o momento, apenas quatro casos foram registrados na delegação brasileira, liderada pelo presidente Jair Bolsonaro. O presidente repetiu que será o “último” brasileiro a ser vacinado, apesar de sua esposa aproveitar a presença dele em Nova York para receber a primeira dose.

Apesar de a Prefeitura de Nova York ter anunciado dias antes que iria exigir o certificado de vacinação para ter acesso às instalações da ONU, o relaxamento das restrições prevaleceu no cenário internacional. Ninguém foi obrigado a informar se estivesse positivo, nem a ter que fazer um teste de diagnóstico ou mostrar o passaporte de saúde.

No entanto, as restrições da ONU foram dissuasivas. No primeiro dia de debates, apenas 1.929 pessoas compareceram ao local, bem menos do que as 26 mil em 2019, segundo a organização.

– Ausências –

Entre as ausências mais notáveis neste ano esteve a do presidente francês, Emmanuel Macron, que foi representado pelo chefe diplomático da França. Jean-Yves Le Drian discursou em um vídeo pré-gravado, apesar de ter estado presente por cinco dias na ONU.

“É raro que um dos cinco membros do Conselho de Segurança fale no último dia”, disse um diplomata europeu. “É surpreendente, nunca vi nada parecido”, disse outro embaixador membro do Conselho de Segurança. Enigmática, a França se limitou a evocar condições sanitárias.

Também estiveram ausentes o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, o cubano Miguel Díaz-Canel, o argentino Alberto Fernández, que enviaram seus discursos gravados em vídeo. Outra ausência notável foi a do mexicano Andrés Manuel López Obrador, representado por seu chanceler.

A atividade nos bastidores foi frenética. Centenas de reuniões bilaterais se somaram aos quase 200 discursos.

Como não podia entrar na sede como as demais ONGs para evitar a aglomeração, o presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, Peter Maurer, multiplicou as entrevistas improvisadas com líderes mundiais nas calçadas do entorno da ONU.