Mia Wasikowska foi coroada pela Forbes como a atriz de maior bilheteria de Hollywood em 2010 graças à versão de Tim Burton de “Alice no País das Maravilhas”, mas a artista australiana enfrenta dificuldades – como muitas outras mulheres – para trabalhar do outro lado da câmera.
Agora, com 31 anos e vivendo de volta em sua nativa Australia, “está sendo realmente difícil” encontrar financiamento para seus projetos como diretora.
“Adoraria fazer mais trabalho de direção, mas é difícil e me parece que, sendo mulher, é uma experiência diferente”, disse Wasikowska à AFP.
“Atuar é diferente e, claro, com o #MeToo (…) é outra coisa”, acrescentou.
“Mas me pareceu interessante tentar fazer meu filme, que mostra ter sido feito de uma perspectiva muito feminina. A resposta é diferente do que vi com meus amigos homens”.
Os desafios para as diretoras cinematográficas são um dos temas principais do aclamado drama “A Ilha de Bergman”, protagonizado por Wasikowska e lançado nesta sexta-feira (22) nas plataformas de streaming. Este filme independente retrata a história de um casal de cineastas que vai até o que foi a antiga casa do autor sueco Ingmar Bergman.
Enquanto um despreocupado Tony (Tim Roth) se encontra com seus fãs, sua esposa Chris (Vicky Krieps) luta para escrever um novo filme na remota ilha Faro.
Sobre seus esforços, paira o espectro de Bergman, que criou alguns dos trabalhos mais venerados do cinema, como “Persona” e “The Seventh Seal” (“O Sétimo Selo”).
“É uma mulher artista tentando encontrar sua voz e sentindo o peso da sombra de grandes artistas ao seu redor (…). Posso me identificar com esse conflito, frustração ou dúvidas sobre mim mesma”, disse Wasikowska sobre o filme.
Para ela, o caminho das mulheres para dirigir é “sistematicamente” diferente, em parte porque há “algo naturalmente experimental no sentido feminino da criatividade”.
“Realmente precisamos trazer muito mais compreensão e gentileza ao nosso próprio processo criativo”, disse.
“Porque pode ser diferente da forma em os homens são criados e a forma em que o mundo te responde pode ser diferente se você é homem ou mulher”.
– “O peso” da criação –
Hollywood começou a emitir sinais de que está olhando além de um grupo reduzido de diretores, majoritariamente brancos e masculinos.
Em abril, Chloe Zhao se tornou a segunda mulher – e a primeira negra – a ganhar o Oscar de melhor direção com “Nomadland”.
Mas “A ilha de Bergman” levanta questões sobre a aura que prevalece sobre os cineastas canônicos, como Bergman, que geralmente ignoram as vantagens de que desfrutam.
Por exemplo, o filme retrata como o autor teve nove filhos com seis mulheres diferentes, mas não teve quase nenhum papel na criação.
“Ainda não sou mãe, mas quero ser”, disse Wasikowska. “Não quero que isso seja limitante, só quero ser uma boa mãe”.
Mas os homens que seguem carreiras cinematográficas “provavelmente não sentiram tanto o peso da paternidade como as mulheres”, afirmou.
“A Ilha de Bergman” também abre o debate sobre “se é possível separar o artista de sua obra”, disse Wasikowska.
“Por que quando você olha os fatos, parece que ele não foi particularmente, não sei, um cara legal? É uma forma simples de dizer”, sorriu.
“E nesse ponto temos as conversas sobre Woody Allen”, acrescentou a atriz, referindo-se ao diretor de “Annie Hall”, que ainda é aclamado por muitos, apesar das acusações de abuso sexual.
– Trabalho vs vida pessoal –
Em “A Ilha de Bergman”, Wasikowska interpreta Amy, a estrela do filme criado por Chris.
Amy tem um caso com um amante. A diretora de “A Ilha de Bergman”, Mia Hansen-Love, explorou uma trama similar, semi-autobiográfica, em um de seus primeiros filmes.
“Estou tão orgulhosa dela por explorar abertamente essas coisas que estão tão presentes em sua própria vida e com as quais ela mesma luta”, disse Wasikowska.
Ao entrar nos sucessos de bilheteria de Hollywood, Wasikowska preferiu manter sua vida pessoal separada de seu trabalho.
Ela e sua colega Jesse Eisenberg nunca responderam perguntas sobre sua relação romântica, que durou de 2013 a 2015.
“Provavelmente agora reconheço um pouco mais, à medida que cresço, o tanto que o trabalho que você faz, as pessoas com quem trabalha, os filmes e os temas afetam sua vida”, disse.