No dia 19 de abril de 2000, Paulo Veronesi Pavesi, que tinha 10 anos, caiu de uma altura de 10 metros no prédio onde morava, em Poços de Caldas (MG). Ele sofreu traumatismo craniano e foi levado às pressas para o hospital da Santa Casa de Misericórdia. Em 21 de abril, os médicos que acompanhavam o caso atestaram a morte encefálica do menino. Na sequência, eles realizaram a retirada dos órgãos para transplante. Na terça-feira (19), o Tribunal do Júri, em Belo Horizonte, condenou o médico Álvaro Ianhez a 21 anos e oito meses de prisão. As informações são do G1.

Na sentença, o réu foi considerado culpado por homicídio duplamente qualificado por motivo torpe e pelo agravante de a vítima ter menos de 14 anos.

A defesa de Álvaro pediu que ele recorresse da decisão em liberdade, mas o juiz negou a solicitação devido à “gravidade do crime”.

“Nós respeitamos a decisão, mas ela é contrária à prova dos autos”, disse o advogado Luiz Chimicatti, que representa o médico.

A denúncia apresentada pelo Ministério Público apontou Ianhez como um dos que causaram a morte de Paulo Veronesi. Também ressaltou que o interesse da equipe médica era de usar os órgãos do meninos em outros pacientes.

“Essa foi uma das diversas irregularidades ocorridas no atendimento ao garoto, pois, como interessados no transplante de órgãos, havia vedação legal para que eles atuassem na constatação da morte do paciente.”

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Testemunhos online

O pai do menino, Paulo Airton Pavesi, prestou o seu depoimento de forma online, pois reside atualmente em Milão, na Itália.

Álvaro Ianhez também acompanhou o julgamento online, já que ele estava em São Paulo.

O advogado Dino Miraglia, que representa a família do menino, afirmou que Álvaro era o diretor da Santa Casa na época e ainda tinha uma clínica de transplante de órgãos.

“Ele estava presente desde a hora que em que ele (Pavesi) foi transferido de um hospital para outro sem a menor necessidade e quando anestesiaram o menino pra fazer retirada de órgão. Se o menino estava com morte cerebral, para que anestesiou? Anestesiou porque não tinha morte cerebral. Se não tinha morte cerebral, não podia ter transplante.”

Outros acusados

Em janeiro de 2021, os médicos José Luiz Gomes da Silva e José Luiz Bonfitto, que participaram do caso, foram condenados a 25 anos de prisão.

Já Marcos Alexandre Pacheco da Fonseca foi absolvido pelo júri.

O que diz o pai do menino

Após a condenação, o pai do menino divulgou alguns vídeos nas redes sociais no quais criticou o fato de Álvaro Ianhez ter sido julgado por vídeoconferência.

“Não foi fácil, foi muito cansativo, eu passei muito mal durante o dia, ansiedade, estresse, eu passei muito mal, eu pensei em não ir para o julgamento para fazer o testemunho e pensei em ir para o hospital, mas aí eu consegui me acalmar.”

“O réu Álvaro Ianhez, o assassino do meu filho, o réu confesso, não está participando do julgamento, está em casa, em outro estado, não está em Belo Horizonte, é a primeira vez que vejo um réu participar de um julgamento do sofá da casa dele, é um absurdo, ele não tem nenhuma defesa, não tem absolutamente nada que desminta as denúncias que fiz até hoje”, completou.

Mesmo com a condenação, Paulo Airton não acredita que o médico será preso. “O tribunal sabia que os habeas corpus foram negados e ele sairia preso do tribunal, por isso, fizeram o acordo para ele ficar em casa. Porque se ele vai, sai o mandado para ele ser recolhido. Ele vai fugir e esperar habeas corpus para dar liberdade para ele responder com recursos de mais 15, 20 anos, em casa.”

“Ele matou uma criança de 10 anos de idade e outros sete pacientes, ele removeu os órgãos do meu filho enquanto estava vivo, ele não teve clemência, ele não teve um pingo de sentimento pelo meu filho e agora eu passo a entender tudo que está acontecendo. Ele sabia da impunidade, já estava tudo acertado”, finalizou.



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