O México retirou seu pessoal diplomático e fechou sua embaixada em Quito neste domingo (7) após a ruptura de relações com o Equador desencadeada pela invasão policial inédita da sede diplomática para capturar o ex-vice-presidente equatoriano Jorge Glas.

O grupo de 18 pessoas, composto por funcionários e suas famílias, foi levado ao aeroporto acompanhado pelos embaixadores da Alemanha, Panamá, Cuba e Honduras, que garantiram que sua integridade fosse respeitada, de acordo com o governo mexicano.

“Nosso pessoal diplomático deixa tudo no Equador e volta para casa com a cabeça erguida e o nome do México em alto após a invasão de nossa embaixada”, informou a chanceler do México, Alicia Bárcena, na rede social X.

Os mexicanos estão viajando em uma companhia aérea comercial após descartarem enviar um avião militar devido às tensões.

A imprensa foi convocada para uma mensagem da delegação, liderada pela embaixadora Raquel Serur, que foi declarada “persona non grata” por Quito, e pelo chefe de missão, Roberto Canseco, que foi detido pela polícia durante a incursão de sexta-feira.

A saída dos diplomatas ocorre depois que o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, declarou a ruptura de relações devido à entrada da polícia na embaixada, um fato nunca antes visto no mundo e condenado por países latino-americanos e também pelos Estados Unidos.

A Nicarágua emulou o México e também rompeu relações com o Equador no sábado.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) e as Nações Unidas também rejeitaram essa ação que atenta contra “a inviolabilidade” das instalações diplomáticas consagrada na Convenção de Viena de 1961.

Neste domingo, a Espanha e a União Europeia se juntaram à rejeição, destacando a necessidade de respeito às normas internacionais.

– Tensões –

Jorge Glas, acusado de corrupção e que foi vice-presidente no governo de Rafael Correa (2013-2018), se refugiava na sede diplomática mexicana desde dezembro alegando ser perseguido político.

A crise diplomática começou na quarta-feira, quando López Obrador estabeleceu um paralelo entre a violência que marcou a campanha presidencial equatoriana de 2023, durante a qual o candidato Fernando Villavicencio foi assassinado, e a criminalidade que ocorre no México em relação às eleições de 2 de junho.

Segundo o presidente mexicano, o crime de Villavicencio criou um “ambiente de violência” que fez a candidata de esquerda Luisa González cair nas pesquisas e o candidato Daniel Noboa crescer, resultando em sua vitória.

Quito declarou na quinta-feira a embaixadora mexicana como pessoa “non grata”, e López Obrador respondeu na sexta-feira concedendo asilo a Glas.

Noboa classificou essa proteção como um “ato ilícito” e defendeu a operação, alegando um “abuso das imunidades e privilégios” concedidos à missão diplomática.

No sábado, a chanceler equatoriana, Gabriela Sommerfeld, justificou a ação argumentando que havia um “risco real de fuga iminente” de Glas.

O México, que por um século recebeu perseguidos políticos de diferentes países, afirmou que o direito ao asilo é “sagrado” e denunciou como uma “violação flagrante do direito internacional” e de sua “soberania” a invasão de sua embaixada.

– Na prisão –

Glas, de 54 anos, foi transferido no sábado para uma prisão de segurança máxima em Guayaquil (sudoeste) conhecida como “La Roca” (A Rocha), segundo fontes governamentais.

Em imagens captadas pela AFP, ele é visto com o rosto contorcido enquanto é conduzido com as mãos algemadas por guardas.

O ex-presidente Correa, exilado na Bélgica desde 2017 e condenado à revelia a oito anos de prisão por corrupção, descreveu os eventos de sábado como uma “loucura” e afirmou que Glas “está com dificuldades para andar porque foi espancado”.

O México anunciou que a embaixada permanecerá fechada indefinidamente e que seus cerca de 1.600 cidadãos residentes no Equador poderão ser assistidos por meio de uma rede do governo ou em embaixadas mexicanas em países vizinhos.

México e Equador estabeleceram relações diplomáticas em 1830. Atualmente, o Equador buscava um acordo de isenção de visto e estava em negociações com o México para sua entrada na Aliança do Pacífico.

O México só havia rompido relações com a Espanha de Francisco Franco, o Chile de Augusto Pinochet e a Nicarágua de Anastasio Somoza.