Duas semanas após se sagrar campeão mundial, Italo Ferreira já estava fazendo treino físico no quintal de casa. O surfista descartou as férias e qualquer descanso para antecipar a pré-temporada. Tudo em nome de suas metas para 2020: o bicampeonato mundial e a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

“Meus objetivos e desejos são maiores do que as férias”, disse o atleta ao Estado, em teleconferência com outros veículos de imprensa, em aquecimento para o Prêmio Laureus, o Oscar do esporte. O brasileiro concorre na categoria “Melhor Atleta de Ação”, com outros cinco esportistas.

Com tanto esforço, Italo quer evitar que os seguidos compromissos, de patrocinadores e sociais em razão do título conquistado em dezembro, tirem seu foco. Ele não quer repetir a trajetória de Gabriel Medina e Adriano de Souza, o Mineirinho, após seus títulos mundiais. Na temporada seguinte às conquistas, ambos caíram de rendimento.

Nesta busca, Italo fez parte de sua pré-temporada até em Portugal, onde aproveitou para testar as poderosas e famosas ondas de Nazaré. “É muito difícil, dá muito medo, mas me arrisquei pela adrenalina”, contou o campeão mundial.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

Medina e Mineirinho caíram de rendimento após conquistarem o primeiro título mundial no circuito. Isso te preocupa?

Eu poderia ter tirado alguns meses para descansar, tirar férias, relaxar um pouco. Mas decidi voltar a treinar no início do ano. Acho que meus objetivos e desejos são maiores do que as férias. Por isso fui para Portugal, comecei a treinar a parte física já em janeiro, tentar me preparar e ficar pronto o mais rápido possível antes de qualquer coisa. Isso me dá um pouco mais de incentivo, de estar nesta posição e tentar defender o título no final do ano. Claro que será um desafio gigantesco para mim. Mas já estou me preparando. Quando virou o ano, tudo zerou novamente. É quando tudo volta ao normal e tem que replanejar e sonhar novamente. Por isso venho me dedicando bastante, querendo ganhar cada vez mais.

Você surfou em Nazaré em janeiro como treino?

Fui para Portugal para começar a pré-temporada. No inverno, tem altas ondas lá. Foi muito bom, fui em várias praias. Ondas incríveis. Muitas opções. Fiquei alguns dias lá treinando e isso fez parte da minha pré-temporada. Valeu a pena ter ido. A pré-temporada feita lá vai fazer valer a pena nos próximos eventos.

É muito diferente pegar onda lá em comparação ao circuito?

É muito difícil, dá muito medo, mas me arrisquei pela adrenalina. Como estou fora das competições, um competidor de verdade tem que sentir a adrenalina em algum momento. E eu vi a oportunidade ali. Espero que isso aconteça mais vezes, mas com um pouco mais de calma. Fui muito na loucura. Cheguei na praia, fui direto para a água. Nem sabia usar o colete direito. Foi uma experiência incrível.

Um dos seus principais objetivos do ano é a Olimpíada. Planeja algum treino diferente?

Não fiz treino diferente pensando na Olimpíada, mas pensando na temporada mesmo. Para já começarmos a competir num grau máximo. Estou me dedicando desde o início do ano, me preparando fisicamente e psicologicamente para começar o ano bem e confiante. Tem tempo até a Olimpíada. Mas, quanto mais leve, melhor. Quando se aproximar da Olimpíada, faltando um mês, devo baixar um pouco o meu peso. Para ter mais velocidade nas ondas e poder executar as manobras mais rápidas e num espaço mais curto. Vou tentar algumas pranchas que podem me favorecer, como as mais leves. Devo perder uns três quilos, passando de 71kg para 68kg.

O que acha das ondas de Chiba, onde será disputado o surfe na Olimpíada?

As ondas não devem ser tão boas. Chiba lembra um pouco as ondas daqui, da minha região [Rio Grande do Norte]. São ondas pequenas, de pouca força. Mas dependendo da época, pode ter alguma ajuda da natureza, pode ser que melhor. Comparado às praias do circuito, não é o melhor lugar. Mas acho que será legal.

Onda pequena baixa o nível técnico de competição, com maior chance de zebra. Isso é ruim para os brasileiros, que dominam o circuito?

Realmente, quando está muito pequena, você conta com a sorte, dependendo do posicionamento dos adversários. Das bancadas, que mudam bastante. Na maioria das vezes, isso não é muito legal. Vai muito pelo momento das ondas. É difícil antecipar os fatos. Quando não tem onda, fica difícil mostrar o seu potencial. Mas todos os representantes do Brasil são acostumados a surfar ondas pequenas. Competimos neste tipo de onda por muito tempo, quando éramos amadores. Pode ser que funcione.

Onde você precisa melhorar ainda?

Especialmente em tubos. O pessoal se espanta e diz: ‘pô, você ganhou em Pipeline’. Mas tenho ainda um pouco de dificuldade por isso estou investindo nesta parte. Para que eu consiga melhorar meu surfe, ganhar um pouco mais de dificuldade, não só nos tubos, mas em outros fundamentos também. Neste ano, temos uma etapa nova, de G-Land [Indonésia], uma etapa em que nunca surfei. É uma onda muito perfeita, exige uma linha bem diferente [técnica]. Durante a temporada, vou fazer algumas viagens para lugares que podem me dar um pouco mais de confiança nesta parte de surfar mais para a esquerda e combinação de manobras. São os pontos que tenho que ajustar.