As contas do São Paulo ainda não deixam o presidente Julio Casares dormir tranquilo. O novo déficit é de R$ 106 milhões (2021). A dívida total está em R$ 650 milhões. Ele teve de bancar R$ 82 milhões em seu primeiro ano de gestão para poder manter o time em atividade e não ser punido pela Fifa. Dentro de campo, um mísero título do Paulistão, sob o comando do técnico Hernán Crespo, e um segundo semestre assustador. Ele herdou uma estimativa de venda de jogador de R$ 176 milhões na pandemia. Não conseguiu cumprir.

Esse é o lado meio vazio do copo no Morumbi. Casares tem um olhar diferente. Prefere ver o copo meio cheio. “Temos um crédito no mercado de R$ 150 milhões, podendo chegar a R$ 200 milhões. Nossa estimativa de receita em 2022 é de R$ 500 milhões. O déficit é de R$ 106 milhões, alto ainda, mas menor do que o anterior, que era de R$ 130 milhões”, ressalta. Ele aponta ao Estadão, em conversa de quase 50 minutos, que o São Paulo tem um caminho, um rumo.

Casares olha para frente sem se esquecer do passado. “Quando assumi, tínhamos mais problemas do que a delegacia de Carapicuíba de sexta para sábado. Tive de arrumar a casa para não ser punido pela Fifa. O clube devia quase R$ 90 milhões”, diz. Esportivamente, o São Paulo estava na fila de nove anos – 16, se contar o Paulistão, vencido em 2021 e com chances de festejar o bi.

Antes de ser presidente e dirigente do São Paulo, Casares foi torcedor de arquibancada dos anos 1970 e 1980, daqueles de chegar ao estádio três horas antes para pegar um lugar e se deliciar com os lanches do lado de fora do Morumbi. Ele sabe a importância do time. Disse que se recusou a vender dois jogadores e mais um garoto da base por 17 milhões de euros, o equivalente a R$ 94 milhões, por entender que os atletas deveriam permanecer no elenco para ajudar a equipe.

Depois de pagar as pendências que apertavam seu pescoço, tratou de rever o elenco. “Foi um erro trazer Daniel Alves, Juanfran e Hernanes pelo custo-benefício”, disse, sem rodeio, embora tivesse no clube um esquema de marketing para bancá-los. Casares se dobra pelos três como pessoa, mas admite que o clube deu passo maior do que a perna.

O elenco abriu mão de 15 atletas, refez contratos e deu estabilidade jurídica aos atletas da base. Mas o desempenho do time no Brasileirão do ano passado o fez demitir Crespo e chamar Rogério Ceni, seu nome para quando o cargo estivesse vago. “Conheço o Rogério e Muricy há 40 anos. Sei com quem estou lidando. E nunca teve nada de o Rogério balançar no cargo. Nunca”, disse. A dupla ameaçou sair porque não havia investimento. Foi combinado que haveria, como houve neste ano. Casares confia em Ceni e tem por Muricy alta estima. Sabe que o time está em boas mãos. “Depois que trouxe o Muricy, a CBF já tentou contratá-lo três vezes. Ele não foi. Disse estar bem feliz no São Paulo.”

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O presidente são-paulino revelou que poderia ter um déficit zerado, ou quase isso, se tivesse aceitado os 17 milhões de euros (R$ 94 milhões) ofertados por dois jogadores do elenco e mais um garoto da base. Casares disse que preferiu ficar com os atletas para a temporada.

SAF E REELEIÇÃO

Dois assuntos mexeram com o São Paulo e com o presidente recentemente, um está em andamento. Trata-se de um estudo para saber quanto vale o clube em caso de querer entrar na onda da Sociedade Anônima do Futebol, a SAF. “Uma associação pode ser também profissional e não precisa se transformar em SAF. Não vejo o São Paulo nesse caminho, mas tenho a obrigação de entrar no assunto e preparar o clube para o futuro, comigo como presidente ou com outro”, disse. “É um dever observar as leis. Mas não vejo o São Paulo como SAF”.

O outro vespeiro foi tentar mexer no estatuto para se reeleger. Não deu certo. O assunto esfriou, mas não morreu. Está em banho-maria e deverá esquentar no momento certo.

Casares está preocupado agora em ver o São Paulo mais competitivo. Tem gostado do que está acontecendo. Ele diz que não via um elenco competitivo. Agora vê, longe ainda do que sonhou quando foi eleito, mas andando num trilho para chegar lá, quem sabe.

A base para que isso aconteça tem alguns pilares. Um deles é no trabalho de Ceni e Muricy. “Boi preto conhece boi preto”, disse, para explicar que ele é tão exigente e detalhista quanto o treinador e o coordenador. “São profissionais preparados. Pode não dar certo, pode ganhar ou perder, mas sabemos quem contratamos. Pessoas sérias, com personalidade e conteúdo”.

O presidente tem noção de que não terá do seu treinador apenas tapinhas nas costas. Nem quer. Recentemente, Ceni comentou os problemas do CT da Barra Funda, como uma piscina sem água. Depois, disse que faltou bom senso para o médico indicar o lado certo para o retorno de um zagueiro. Tudo isso respinga em Casares. “Estou preparado para isso. Não temos hora para trabalhar, nem medo de cobranças. Quando cheguei, estávamos na UTI, passamos para a CTI e agora estamos no quarto. Mas o São Paulo ainda precisa de cuidados”, admite.

O elenco deve trabalhar com 25 ou 26 atletas, como quer Ceni. Ele disse não ter como dar atenção para todos em grupos maiores. Casares está atento. O São Paulo tem quatro competições na temporada. O Estadual e a Copa do Brasil já começaram. Vem aí a Sul-Americana e o Brasileirão, em ano de Copa do Mundo. Vai precisar de apoio. Casares diz respeitar o torcedor são-paulino sem se envolver com as organizadas. “Não ajudo, mas respeito todos eles. E não aceito violência”, disse.

A base de Cotia também está dentro desses pilares para o time voltar a ser competitivo. Alex, o técnico da molecada, já foi sondado pela CBF. Preferiu ficar. Para Casares, o copo tricolor está mesmo meio cheio. “Esse vai ser o meu legado.”


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