O secretário estadual da Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, afirmou não haver qualquer evidência de participação do crime organizado na adulteração de bebidas alcoólicas com metanol, que causou ao menos duas mortes no estado na última semana.
“São locais distintos, nenhum dos 41 presos são ou foram faccionados. A gente poderia classificar como uma associação criminosa, mas é muito diferente de uma organização criminosa, que possui uma estrutura hierarquizada, com funções pré-definidas“, disse Derrite nesta segunda-feira, 6. “Não há nenhum indício de participação do PCC [Primeiro Comando da Capital], para falar claramente”.

Coletiva do governo de São Paulo sobre as medidas de combate aos casos de intoxicação por metanol
Na mesma entrevista, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que a Polícia Civil trabalha com duas linhas de investigação sobre os casos:
— contaminação por metanol usado na limpeza de garrafas reaproveitadas;
— uso de metanol para aumentar o volume de bebidas adulteradas.
De acordo com o mandatário, as operações da Vigilância Sanitária em bares e distribuidoras são o ponto de partida da apuração policial. “Nós partimos do bar onde houve a contaminação, cruzamos a nota fiscal para verificar a origem da bebida, qual foi o distribuidor que vendeu, e batemos lá para fazer a fiscalização”, disse.
Tarcísio reforçou a importância da suspensão preventiva da inscrição estadual de todas as empresas suspeitas de comercializar produtos adulterados. “O comerciante que topa o risco de comprar uma bebida sem nota fiscal está sendo irresponsável. Nós não vamos permitir isso”, disse.
O governador ainda anunciou a aquisição de 2.500 ampolas de álcool etílico para o tratamento de pacientes intoxicados, que serão distribuídos em 20 hospitais.
Os números de São Paulo
O estado lidera os casos suspeitos de intoxicação por metanol, com 192 registros (14 confirmados e 178 em investigação). Na última semana, duas pessoas morreram após ingerir a substância, 11 estabelecimentos foram interditados e 41 pessoas foram presas por suspeita de adulteração criminosa de bebidas.
No Brasil, há ao todo 16 casos confirmados de ingestão da substância e outros 209 em investigação, conforme o Ministério da Saúde, espalhados por 13 estados.
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A crise do metanol
O Ministério da Saúde anunciou a compra de 12 mil ampolas de etanol farmacêutico, que serão distribuídas para os Centros de Referência de Toxicologia espalhados pelo país, e 2.500 tratamentos de Fomepizol, outro antídoto para o metanol, com o objetivo de conter o surto atual.
O ministro Alexandre Padilha classificou o cenário atual como “anormal” e recomendou que a população não consuma bebidas alcoólicas até a regularização da situação. Os casos registrados ocorreram após o consumo de vodka, gin e whisky.
Os órgãos de vigilância sanitária recomendam a bares, empresas e demais estabelecimentos que comercializam bebidas que redobrem a atenção quanto à procedência dos produtos. Aos consumidores, a orientação é para não adquirir substâncias sem rótulo, lacre de segurança e selo fiscal até segunda ordem.
Em entrevista à IstoÉ, o ex-Secretário Nacional do Consumidor e ex-Presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria, Arthur Rollo, afirmou que “todo tipo de estabelecimento oferece um risco ao consumidor” até que a situação seja regularizada.
“O consumidor não tem qualificação para identificar se os lacres ou selos de conformidade estão adulterados. Enquanto isso não estiver devidamente verificado, os consumidores não estão seguros, seja para comprar em um supermercado, adega, bar ou restaurante”, disse.
O gerente médico do Pronto Atendimento do Hospital Sírio-Libanês, Luis Penna, recomendou a interrupção no consumo de bebidas também para evitar o aumento no número de atendimentos hospitalares e internações. Segundo o médico, a agilidade na identificação e tratamento é fundamental para tratar a intoxicação por metanol.