Em reação à adulteração de bebidas com metanol no estado, Enio Miranda, diretor de planejamento estratégico e governança da Fhoresp (Federação de Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado de São Paulo), afirmou à IstoÉ que as entidades do setor cobraram do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) uma “força-tarefa permanente”.
A Secretaria estadual da Saúde informou nesta quarta-feira, 1º, que 10 casos de contaminação e uma morte causada pelo metanol foram confirmados em São Paulo. Ao todo, há 37 notificações por suspeita de ingestão da substância, número que inclui 27 casos suspeitos em investigação, dos quais cinco foram óbitos. As investigações estão centralizadas na hipótese de adulteração de destilados.
Em reunião com o governo, representantes de bares e restaurantes manifestaram o temor de que a crise “prejudique quem trabalha corretamente” em uma “caça às bruxas”, segundo o diretor da Fhoresp. À IstoÉ, comerciantes relataram casos de clientes evitando o consumo de destilados e manifestaram receio quanto à possibilidade de queda no faturamento, especialmente aos finais de semana.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, concedeu entrevista para explicar as medidas de reação à crise do metanol
Em abril, a Fhoresp afirmou em levantamento que 36% das bebidas alcoólicas comercializadas no Brasil eram fraudadas, falsificadas ou contrabandeadas. “O problema conhecido, mas nunca foi devidamente combatido. Nós temos críticas, mas o trabalho para isso é conjunto e parece ter começado”, disse Miranda.
Segundo o diretor, as entidades do setor se comprometeram a subsidiar o governo com as informações disponíveis a respeito de comerciantes, fabricantes e distribuidores de bebidas. Até esta quarta, os órgãos estaduais e municipais de Vigilância Sanitária interditaram seis estabelecimentos e apreenderam 178 mil garrafas na capital paulista e nas cidades de São Bernardo do Campo e Barueri.
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A Polícia Federal instaurou um inquérito para investigar a crise do metanol. “No momento, as ocorrências estão concentradas em São Paulo, mas tudo indica que há uma distribuição para além do estado“, disse o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski.
A crise do metanol
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, classificou o cenário como “anormal” e sugeriu que a população não consuma bebidas destiladas até a regularização da situação. As contaminações registradas aconteceram após o consumo de vodka, gin e whisky.
Os órgãos de vigilância sanitária recomendam a bares, empresas e demais estabelecimentos que comercializam bebidas que redobrem a atenção quanto à procedência dos produtos. Aos consumidores, a orientação é para não adquirir substâncias sem rótulo, lacre de segurança e selo fiscal até a resolução dos casos.
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Em entrevista à IstoÉ, o ex-Secretário Nacional do Consumidor e ex-Presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria, Arthur Rollo, afirmou que “todo tipo de estabelecimento oferece um risco ao consumidor” durante a crise do metanol.
“O consumidor não tem qualificação para identificar se os lacres ou selos de conformidade estão adulterados. Enquanto isso não estiver devidamente verificado, os consumidores não estão seguros, seja para comprar em um supermercado, adega, bar ou restaurante”, disse.
O gerente médico do Pronto Atendimento do Hospital Sírio-Libanês, Luis Penna, recomendou a interrupção no consumo de destilados também para evitar o aumento no número de atendimentos hospitalares e internações. Segundo o médico, a agilidade na identificação e tratamento é fundamental para tratar a intoxicação.