A facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) pode estar por trás dos recentes casos de intoxicações provocadas por bebidas alcoólicas adulteradas em São Paulo, segundo a Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF).
Em nota divulgada neste domingo, 28, a entidade diz suspeitar que o metanol usado para adulterar as bebidas pode ser o mesmo importado ilegalmente pela facção para misturar aos combustíveis.
Segundo o Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo (CVS), duas pessoas morreram por intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas na capital paulista e em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.
Ainda conforme o CVS, outros seis casos foram confirmados desde junho. Atualmente, 10 pacientes são investigados por possível contaminação pela mesma substância.
Há um mês, uma grande operação do Ministério Público de SP contra o crime organizado constatou o uso de combustível adulterado em postos alvos. Os estabelecimentos usavam 90% de metanol – o máximo permitido é de 0,5% da substância na gasolina e no álcool.
Para a ABCF, o fechamento nas últimas semanas de distribuidoras e formuladoras de combustível “diretamente ligadas ao crime organizado”, pode ser a causa dessa recente onda de intoxicações e envenenamentos de consumidores. Investigações do MP apontam que o PCC importa o metanol de maneira fraudulenta para adulteração de combustíveis.
Ainda segundo a entidade, a facção e seus parceiros podem “eventualmente ter revendido tal metanol para destilarias clandestinas e quadrilhas de falsificadores de bebidas, auferindo lucros milionários em detrimento da saúde dos consumidores”.
A ABCF apontou ainda que o Estado de São Paulo vive um surto de violência e que a crise econômica, associada ao desemprego, ajuda na escalada da criminalidade, levando muita gente a buscar recursos na informalidade. “Uma conjuntura que leva essas pessoas diretamente aos braços da facção criminosa dominante em nosso Estado, o PCC”, diz.
Retomada do sistema de controle
A entidade defende a retomada do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe), desativado em 2016, para restabelecer a rastreabilidade das bebidas no País.
“Desde o desligamento do Sicobe, que era operado pela RF (Receita Federal) e pela Casa da Moeda do Brasil, os volumes de bebida falsificadas no país aumentaram muito, em bilhões de litros, bem como a sonegação fiscal advinda dessa atividade criminosa”, diz.
De acordo com o anuário da falsificação da ABCF 2025, o setor de bebidas foi o mais prejudicado pelo mercado ilegal no último ano, com perdas estimadas em 88 bilhões de reais, 29 bilhões em sonegação de tributos e 59 bilhões restantes de perdas de faturamento das indústrias que sofrem com tais fraudes e falsificações.
Sobre a retomada do Sicobe, a reportagem entrou em contato com a Receita Federal e aguarda retorno.
O que é metanol?
Também chamado de álcool metílico, o metanol é um biocombustível altamente inflamável, que pode ser obtido por meio da destilação destrutiva de madeiras, processamento da cana-de-açúcar, ou de gases de origem fóssil. Suas propriedades químicas são semelhantes ao etanol, mas com um nível mais elevado de toxidade.
Utilizada como solvente em indústrias químicas, a substância também é aplicada para a fabricação de plásticos e para a produção de biodiesel e combustível.
A ingestão acidental ou intencional de metanol provoca intoxicações graves e pode levar à morte. De acordo com o Governo, a adulteração de bebidas aumenta a gravidade da situação, já que, do ponto de vista de saúde pública, pode causar surtos epidêmicos com casos severos e alta taxa de letalidade.
Desde o último sábado, 27, a Secretaria da Saúde de São Paulo recomendou que bares, restaurantes e locais que fazem a venda de bebidas chequem com atenção a procedência dos produtos oferecidos pelo fornecedores.
A pasta alerta ainda que a população compre apenas bebidas de fabricantes legalizados e que possuam rótulo, lacre de segurança e selo fiscal, evitando opções de origem duvidosa para prevenir casos de intoxicação que podem colocar a vida em risco.