Uma pesquisa divulgada nesta quarta-feira, 18, pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) mostra que mais da metade (54%) dos professores da rede estadual disse já ter sofrido algum tipo de violência nas escolas. A porcentagem vem crescendo: em 2014, era de 44%, passando para 51% em 2017. Entre os alunos, a proporção é de 37%. Em nota, a Secretaria Estadual da Educação disse que a pesquisa tem “viés político” e criticou a limitação da amostragem de entrevistados.

A análise foi conduzida a partir de entrevistas com estudantes e professores na área de 14 regionais do Estado, com uma amostra de 1,7 mil pessoas em contatos pessoais e telefônicos realizados entre os dias 5 de setembro e 1º de outubro deste ano. O objetivo, diz a Apeoesp, é “monitorar a percepção da população e da comunidade escolar sobre qualidade da educação, segurança nas escolas e outros temas relevantes para a educação pública”.

Levando em consideração aqueles que souberam de casos de violência nas escolas estaduais no último ano, a proporção total aumenta. Entre os estudantes, 81% relataram ter tomado conhecimento de algum caso, porcentagem que é de 90% entre os professores. Esses números até seis pontos percentuais maiores se comparados com as respostas para a mesma pergunta feita nas pesquisas de 2014 e 2017.

Os casos de violência mais citados são diferentes entre professores e alunos: para os docentes, a maioria dos casos diz respeito à agressão verbal – já os alunos citam o bullying. 62% dos estudantes e 70% dos professores relataram casos de bullying em suas escolas. Em relação à discriminação, 35% dos estudantes e 54% dos professores souberam de casos em suas escolas.

A discriminação e o bullying podem vir dos próprios colegas ou até dos professores, mostram os dados. Na pesquisa, 38% dos alunos disseram que já sofreram por esses motivos ao expor alguma opinião ou ideia. A proporção é de 34% entre os professores. “Apesar de desejarem um espaço escolar livre para a reflexão e o debate de ideias, cerca de 1/3 dos estudantes e professores já sentiram constrangidos ao expor alguma ideia”, detalha a pesquisa.

Em setembro, um aluno de 14 anos esfaqueou um professor dentro da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Doutor Paulo Gomes Cardim, do Centro Educacional Unificado (CEU) Aricanduva, na zona leste da capital. Em um caso de violência extrema em março, dois ex-alunos da Escola Estadual Raul Brasil, em Suzano, mataram cinco estudantes e duas funcionárias da unidade. Eles se mataram ao final do ataque planejado à escola.

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Quase todos os alunos e profissionais de educação, acrescenta a pesquisa, afirmam que o governo do Estado deveria dar mais condições de segurança nas escolas, demanda que também é reforçada entre os entrevistados da população comum.

Apesar dessa demanda, quem está na rotina das escolas relatou no estudo uma queda na realização de campanhas contra a violência. Em 2017, 78% dos alunos disse que a escola já havia feito esse tipo de campanha. Em 2019, a porcentagem caiu para 57%. Entre os professores, não houve mudança significativa: de 84% para 83%. Por outro lado, aumentou consideravelmente o porcentual e alunos que declaram que escola promove campanhas contra discriminação e preconceito.

A análise também se estendeu para perguntas sobre a valorização do professor. Questionados sobre como avaliam o salário que recebem, sete em cada dez profissionais disseram que o valor é ruim ou péssimo. É consenso entre os estudantes (82%) e entre os próprios professores (97%) que os profissionais que trabalham em sala de aula são menos valorizados do que deveriam pelo governo.

Em novembro, o governador João Doria (PSDB) apresentou um novo plano de carreira para os professores, com previsão de aumentar o piso salarial dos docentes em 54% nos próximos quatro anos. Atualmente, os ingressantes na rede estadual de ensino ganham R$ 2.585. Com a nova proposta, já em 2020, o salário passaria a R$ 3.500, um reajuste de pouco mais de 35%. E atingiria R$ 4.000 em 2022, ano eleitoral.


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