Cerca de metade da população mundial, 49% segundo cálculos da AFP, terá eleições em 2024.

Por volta de 30 países vão eleger um presidente. Também estão previstas eleições legislativas em cerca de 20 deles.

Estes pleitos vão acontecer em um contexto internacional conturbado pelo conflito russo-ucraniano e a guerra entre Hamas e Israel. Além disso, vão enfrentar o risco – mais ou menos importante dependendo do país – da desinformação e das manipulações relacionadas com a inteligência artificial (IA), segundo os observadores.

A seguir, as eleições mais significativas de 2024:

– Estados Unidos: um duelo de revanche? –

Em 5 de novembro, dezenas de milhões de americanos comparecerão às urnas para escolher os integrantes do Colégio Eleitoral, responsáveis por eleger o inquilino da Casa Branca.

Esta 60ª eleição presidencial americana terá um ar de déjà-vu, com a revanche esperada entre o presidente democrata Joe Biden, de 81 anos, e seu antecessor republicano, Donald Trump, de 77.

Este possível enfrentamento entre veteranos será escrutinado com a perspectiva das polêmicas e informações falsas que marcaram a eleição presidencial de 2020. Trump jamais reconheceu sua derrota e alguns americanos seguem convencidos de que seu voto foi “roubado”.

– México: duas mulheres disputam Presidência –

Em junho, uma mulher pode se tornar presidente de México pela primeira vez, um símbolo importante nesse país que registra milhares de feminicídios por ano.

Duas mulheres são as favoritas para suceder o presidente Andrés Manuel López Obrador: a ex-prefeita da Cidade do México Claudia Sheinbaum, do partido no poder Morena (esquerda), que lidera amplamente as pesquisas, e a senadora Xóchitl Gálvez, por uma Frente que reúne três partidos de oposição.

– Venezuela: a oposição poderá desafiar o regime chavista?

Na Venezuela, afetada por uma grave crise política e econômica que levou mais de sete milhões de pessoas ao exílio, o socialista Nicolás Maduro, sucessor de Hugo Chávez (1999-2013), busca um terceiro mandato no segundo semestre de 2024.

Sua reeleição em 2018, considerada fraudulenta, não foi reconhecida por muitos países, entre eles os Estados Unidos.

Grande parte da oposição, que durante muito tempo esteve dividida, se uniu em torno da liberal María Corina Machado, apesar de ela estar inabilitada politicamente.

Os Estados Unidos, que aliviaram em outubro, por seis meses, o embargo ao petróleo da Venezuela, que tem as maiores reservas do mundo, exigem a suspensão da inelegibilidade dos opositores, entre eles María Corina Machado.

– Rússia: oposição amordaçada –

Embora não tenha anunciado oficialmente, não há dúvida, segundo os observadores, de que Vladimir Putin será candidato a um novo mandato na eleição presidencial prevista para março.

Putin, que comanda a Rússia há 23 anos, promoveu mudanças na Constituição em 2020 que o autorizam a seguir no poder até 2036, o que o levaria a superar Josef Stalin em tempo de permanência no Kremlin.

Nos últimos anos, a oposição e a sociedade civil foram amordaçadas no contexto do conflito na Ucrânia: os principais opositores políticos estão exilados ou presos, como Alexei Navalny, inimigo número um do Kremlin; e outros morreram ou foram fisicamente silenciados.

– Índia: quase 1 bilhão de eleitores –

Cerca de 945 milhões de indianos estão convocados a comparecer às urnas em maio para as eleições gerais neste país que, em 2023, se tornou o mais populoso do mundo.

O BJP, partido do primeiro-ministro Narendra Modi, no poder desde 2014, é apontado como o grande favorito nas pesquisas, já que seu nacionalismo seduz a maioria hindu.

Esta eleição acontecerá em um contexto de retrocesso nos direitos políticos e liberdades civis, segundo a ONG Freedom House.

Liderado por Rahul Gandhi, neto da ex-primeira-ministra Indira Gandhi, o Partido do Congresso – outrora dominante, mas agora enfraquecido – tentou formar uma grande coalizão com forças de oposição regionais de diversas tendências para desafiar Modi.

– UE: gigantesca eleição transnacional –

Mais de 400 milhões de eleitores de 27 países europeus serão convocados a eleger, no começo de junho, 720 deputados para o Parlamento Europeu, em um gigantesco pleito transnacional.

Estas eleições podem se caracterizar por um novo avanço das forças eurocéticas, como evidencia o triunfo do partido de extrema direita e islamofóbico PVV no pleito legislativo dos Países Baixos.

A eleição para o Parlamento Europeu ocorre no momento em que a imigração é objeto de intensos debates em muitos dos 27 países e que o custo de vida dos europeus tem aumentado por conta da inflação.

– Irã: 18 meses depois da morte de Mahsa Amini –

Eleições legislativas estão marcadas para 1º de março no Irã, 18 meses depois da morte de Mahsa Amini. Esta jovem curda morreu após ser detida pela polícia pelo mau uso do véu islâmico, o que desencadeou meses de manifestações multitudinárias contra as lideranças políticas e religiosas. Um movimento duramente reprimido, com centenas de mortos e milhares de prisões.

A eleição anterior, de 2020, foi caracterizada pela desclassificação maciça de candidatos reformistas e moderados, restringindo o pleito na prática a uma disputa entre conservadores e ultraconservadores.

– Senegal: eleição sob tensão? –

Estão previstas dez eleições presidenciais no continente africano em 2024, cenário de oito golpes de Estado em três anos. No Senegal, cujo pleito está previsto para 25 de fevereiro, tudo indica que a votação ocorrerá em um ambiente de tensão.

O presidente Macky Sall, no poder desde 2012, designou em setembro o seu primeiro-ministro Amadou Ba como candidato de seu campo político, o que foi alvo de questionamentos internos.

Do lado opositor, a candidatura de Ousmane Sonko, terceiro colocado nas eleições de 2019, continua suspensa, já que a Suprema Corte invalidou, em 17 de novembro, uma decisão judicial que colocava o opositor de volta ao jogo eleitoral, o que será objeto de um novo julgamento.

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