A lei internacional prevê que todas as pessoas que fogem de zonas de conflito tenham o mesmo direito de cruzar a fronteira de forma segura, usando com igualdade os meios disponíveis seja qual for seu passaporte ou a cor de sua pele. Não há preferência entre os indivíduos que tentam escapar de uma guerra, a não ser para crianças, mulheres e idosos. Mas não é o que vê na Ucrânia, onde critérios étnicos prevalecem. Se há um povo que vem sofrendo com atitudes discriminatórias nos primeiros dias de conflito no país é o africano. Relatos de preconceito são abundantes e envolvem privilégios para os brancos e um esforço de colocar obstáculos no caminho dos negros.

Africanos não conseguem se refugiar nas estações de metrôs de Kiev. Quando querem sair do país, são impedidos de usar transporte público ou ficam no fim da fila dos trens. E ao chegar à fronteira são frequentemente freados na entrada da Polônia e de outros países vizinhos e esperam muitas horas ou dias para realizar o intento, mais do que qualquer branco.

A União Africana, organização que reúne os 55 países do continente, protestou, segunda-feira, 28, contra o tratamento dispensado aos cidadãos de nações africanas que tentam deixar a Ucrânia. “Relatos de que africanos são selecionados para tratamento dissimilar inaceitável são chocantemente racistas e uma violação da lei internacional”, diz o comunicado divulgado pela entidade, assinado pelos seus principais dirigentes, MackySall, também presidente do Senegal, e Moussa Faki Mahamat, ex-primeiro ministro do Chade. Não faltam exemplos de atitudes preconceituosas das autoridades de segurança. Nos trens que saiam de Kiev, por exemplo, a ordem era deixar passar primeiro os brancos e só depois os africanos. Na fila na fronteira na Romênia, cruzam primeiros os ucranianos, depois Indianos, árabes e por último os negros.

Nos trens que saiam de Kiev, por exemplo, a ordem era deixar passar primeiro os brancos e só depois os africanos

É mais uma situação absurda que se vê no mundo atualmente. Mesmo na guerra, o branco não se esquece do racismo. Embora saiba que o inimigo é outro, ele continua tratando o negro com hostilidade. Diante de uma situação opressora, em que brancos russos tentam valer sua vontade à força contra brancos ucranianos, os preconceitos étnicos deveriam desaparecer e dar lugar à solidariedade. Mas não é o que acontece. Ao contrário, eles afloram. É o que se costuma dizer: guerras não ensinam nada. Só pioram as pessoas.