Diferente do que se possa pensar, a endometriose não é um impeditivo para seguir normalmente com uma gravidez. É certo que essa inflamação do endométrio pode comprometer a capacidade reprodutiva da mulher, mas a partir do momento que ela consegue engravidar, a gestação segue sem problemas.

A apresentadora Tatá Werneck, por exemplo, anunciou no começo deste mês que está grávida do primeiro filho com Rafael Vitti. Ela, que convive com endometriose, disse que ficou surpresa ao descobrir que espera um bebê.

“Ser mãe era um grande sonho. Mas foi uma surpresa total. Eu estava me preparando para fazer uma cirurgia de endometriose em março. Nem sabia que poderia engravidar”, afirmou.

A gravidez de Tatá Werneck faz parte dos 50% dos casos de mulheres com endometriose que conseguem engravidar de forma natural, diz a ginecologista e obstetra Ana Carolina Lúcio Pereira, integrante da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Mesmo quando a doença é profunda, é possível engravidar naturalmente.

Como a gravidez libera altos níveis de progesterona, hormônio usado no tratamento para endometriose, a inflamação no endométrio tende a diminuir. Com isso, há remissão dos focos da doença, que melhora significativamente. Se o embrião conseguiu se implantar normalmente no tecido do útero, a gestação não corre risco adicional.

Tatá Werneck teve de ficar em repouso nas primeiras semanas devido a um descolamento de placenta, mas o fator não tem relação com a endometriose. “Nessas primeiras semanas, pode ser um descolamento ovular e pode acontecer em qualquer mulher (assim como o descolamento de placenta). Quando ocorre, é manter repouso e a gravidez evolui muito bem”, afirma Mário Cavagna, chefe do departamento de reprodução humana do Hospital Pérola Byington, de São Paulo, centro de referência em saúde da mulher.

O que é endometriose?

Endometriose é uma inflamação do tecido interno do útero, chamado endométrio. O crescimento exagerado dessa camada faz com que ela vá para lugares fora do órgão. Porém, Ana Carolina afirma que, mesmo que a implantação atinja níveis externos, algumas mulheres podem não desenvolver a doença. “Não há uma causa definida para a endometriose. Existem vários fatores envolvidos, como genéticos e imunológicos, mas são fatores ainda não conhecidos”, diz a médica.

Os sintomas da endometriose incluem cólicas fortes e recorrentes de difícil controle, que não melhoram com remédios comumente usados, dor forte durante a relação sexual e, em alguns casos, fora do período menstrual. Caso a inflamação chegue ao intestino ou à bexiga, pode haver sangramento, que será visível nas fezes ou na urina.

Infertilidade

Cavagna diz que a endometriose, embora não impeça uma gravidez, pode afetar a capacidade reprodutiva da mulher, sendo uma das principais causas de infertilidade feminina. Com a inflamação do endométrio, esse tecido pode se espalhar para além do útero e atingir as trompas, os ovários ou até outros órgãos.

“Esse processo inflamatório pode levar à formação de aderências que afetam a tuba uterina. A endometriose também pode promover um ambiente uterino hostil ao embrião, dificultando a implantação embrionária ou a chegada do espermatozoide até o óvulo”, explica o médico.

Ana Carolina complementa que, quando a inflamação atinge os órgãos pélvicos, pode deformar a arquitetura deles, principalmente da tuba uterina. “Ela não consegue captar o óvulo e fazê-lo progredir. Existe também alteração do óvulo, cuja qualidade não é boa”, diz. Cavagna acrescenta que, quanto mais avançado o estágio da endometriose, mais difícil é engravidar.

Cirurgia

O objetivo da cirurgia é retirar os focos de endometriose de onde quer que eles estejam. No entanto, a decisão pelo procedimento pode não ser tão simples assim. “A indicação cirúrgica leva em conta, basicamente, a qualidade de vida da mulher. Endometriose promove dor, às vezes a mulher não consegue ter relações sexuais devido à dor forte, pode comprometer o intestino. Mas se for apenas dificuldade para engravidar, nosso conduta no Pérola Byington é tratar para engravidar”, afirma o médico. Ou seja, a cirurgia não é requisito para depois engravidar.

Ana Carolina diz que a dificuldade de engravidar é considerada após um ano de tentativas. Nesses casos, é possível fazer fertilização in vitro. Sobre a cirurgia, a ginecologista observa que, mesmo após o procedimento, os focos podem voltar, pois diversos fatores que contribuem para o aparecimento da endometriose.

Tratamento e prevenção

O tratamento primordial tem o objetivo de bloquear os focos de endometriose. São usadas medicações que impedem a menstruação a fim de que o endométrio não cresça novamente após esse período. Medicamentos para dor também são prescritos. Uma vez que não há causas definidas para a doença, não é possível falar em prevenção específica. Ana Carolina indica a realização de exames periódicos para fazer o diagnóstico.

Ainda assim, a nutróloga Ana Luisa Vilela afirma que “a alimentação tem influência menor quando a doença já está mais avançada, mas pode ajudar no início do desenvolvimento da enfermidade, já que a endometriose é um processo inflamatório e há uma lista de alimentos que intensificam ou previnem esse mal”.

Ela explica que alimentos gordurosos, frituras e processados, que são muito ricos em gorduras do tipo ômega 6, podem colaborar para a inflamação e resultar em desequilíbrio. “Quando há consumo excessivo de gorduras pró-inflamatórias pode, ao mesmo tempo, acontecer a deficiência das gorduras benéficas – e esse é um grande perigo”, alerta a especialista.

Por outro lado, há alimentos que reduzem processos inflamatórios a aumentam a imunidade. “São os ricos em ômega 3, como a sardinha, atum, salmão, castanhas e amêndoas, hortaliças, carnes magras, ovos, queijo cottage, azeite de oliva, feijões e frutas como caju, goiaba, limão e abacate”, indica.