Mesmo após prisões em massa, protestos da oposição atraem multidão na Turquia

Mesmo após prisões em massa, protestos da oposição atraem multidão na Turquia

"PrisãoPresidente Erdogan assiste a maior onda de repúdio a seu governo desde as manifestações pró-democracia de 2013 no Parque Gezi. Mobilização persiste mesmo após regime deter quase 2 mil.Mesmo após a prisão de quase 2 mil manifestantes na Turquia pelo regime de Recep Tayyip Erdogan, dezenas de milhares de pessoas voltaram às ruas de Istambul neste sábado (29/3) para protestar contra a prisão do prefeito e líder oposicionista Ekrem Imamoglu.

Principal e mais promissor adversário de Erdogan, Imamoglu estava prestes a lançar sua candidatura à Presidência quando foi preso, em 19 de março, acusado de corrupção e de ligação com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que o governo considera terrorista.

A prisão desencadeou a maior onda de protestos da Turquia desde os protestos pró-democracia de 2013 no Parque Gezi. O Partido Popular Republicano (CHP) de Imamoglu o confirmou no mesmo dia como candidato às eleições previstas para 2028.

Político popular, Imamoglu foi reeleito em março de 2024 para um terceiro mandato como prefeito de Istambul, centro cosmopolita da Turquia.

Uma carta do político foi lida no ato deste sábado sob gritos de aprovação da multidão. "Não tenho medo: vocês estão ao meu lado, a nação está unida contra o opressor", diz um dos trechos. "Eles podem me colocar na cadeia e me testar o quanto quiserem. A nação demonstrou que irá esmagar todas as armadilhas e complôs."

Em discurso aos manifestantes, o líder do CHP, Ozgur Ozel, disse que as acusações contra Imamoglu são infundadas e politicamente motivadas. O partido defende o boicote de veículos jornalísticos e empresas que afirma serem pró-Erdogan, e defende a antecipação do pleito, argumentando que o governo perdeu a legitimidade.

Além do CHP de Imamoglu, outras siglas de oposição, grupos de direitos humanos e alguns países do Ocidente veem a prisão do oposicionista como uma tentativa de Erdogan de se livrar de uma potencial ameaça à sua hegemonia no poder, que já dura quase 11 anos.

O governo de Erdogan alega que o Judiciário é independente e nega ter qualquer papel na prisão de Imamoglu.

O mandatário turco, por outro lado, sabe que o momento geopolítico é favorável para ele, com parceiros da aliança militar Otan – especialmente os europeus – mais dependentes de Ancara e menos propenso a retaliá-lo por perseguir opositores.

A Turquia é, depois dos Estados Unidos, a maior potência militar da Otan, e tem uma indústria bélica pujante.

Prisões em massa e repressão contra jornalistas

Segundo o ministro do Interior Ali Yerlikaya, quase 1,9 mil pessoas foram detidas desde o início dos protestos. Até quinta-feira passada, 260 seguiam presas enquanto aguardavam julgamento.

Embora os protestos tenham sido majoritariamente pacíficos, houve confrontos com a polícia, que tem usado gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha para dispersar os manifestantes.

As autoridades também enquadraram jornalistas, prendendo 13 deles em cinco dias – dos quais 11 já foram libertados –, deportando um correspondente da BBC por supostamente "ameaçar a ordem pública" e encarcerando um repórter sueco que viajou a Istambul para cobrir os protestos.

O jornalista sueco, Joakim Medin, responde a um processo por "insultar o presidente", segundo a sucursal turca da ONG Repórteres sem Fronteiras. A acusação, segundo a ONG, é frequentemente usada para silenciar críticos de Erdogan.

"A pressão judicial sistematicamente exercida sobre jornalistas locais por um longo período agora está sendo aplicada a seus colegas estrangeiros", disse um porta-voz da entidade à agência de notícias AFP.

Já o Conselho Supremo de Rádio e Televisão da Turquia (RTUK) impôs multas a quatro emissoras pela cobertura midiática das prisões. Uma delas, ligada à oposição, teve sua programação suspensa por dez dias, por supostamente incitar ao "ódio e hostilidade".

Na sexta-feira, Imamoglu denunciou a prisão também de seu advogado, Mehmet Pehlivan, solto horas depois sob a condição de não deixar o país.

Prisão abalou a lira turca

Erdogan, que tem dominado a política turca há quase duas décadas – antes de ser eleito presidente, ele foi primeiro-ministro de 2003 a 2014 –, minimizou os protestos, chamando-os de "show" e advertindo o CHP contra o que chamou de "provocação".

A prisão de Imamoglu fez despencar a lira turca, forçando o Banco Central a usar reservas para manter o valor da moeda.

O governo alega que o impacto será limitado e temporário, e o Banco Central declarou que a economia não está comprometida, mas que tomará medidas adicionais, se necessário.

ra (Reuters, AFP)