O alemão Khedira, o francês Pogba, o senegalês Mané, o belga Fellaini e o egípcio Salah têm outra preocupação pelas próximas semanas além da preparação para a Copa do Mundo. O quinteto, assim como outras dezenas de jogadores muçulmanos, precisa conciliar a rotina de treinos para o torneio com as tradições do Ramadã. O mês sagrado para os islâmicos (15 de maio a 15 de junho neste ano) tem como uma das premissas a purificação espiritual pelo jejum do amanhecer ao entardecer. Ou seja: os seguidores da religião não comem e não bebem do amanhecer ao anoitecer.

A importante data do calendário muçulmano desafia atletas e seleções no principal torneio de futebol do planeta. A questão ganha importância, pois a Copa do Mundo na Rússia é a edição da história com a maior presença de países islâmicos. São sete: Egito, Marrocos, Tunísia, Nigéria, Senegal, Irã e Arábia Saudita.

O maior personagem do tema é Mohamed Salah. O atacante do Liverpool disputou a final da Liga dos Campeões da Europa, neste sábado, durante o mês sagrado e envolvido em mistério. Embora autoridades religiosas tenham liberado o jogador do jejum para não prejudicar o seu rendimento, a imprensa egípcia noticiou que o atacante seguiria a restrição.

A seleção do Egito incorporou à comissão técnica mais profissionais para monitorarem a alimentação e o desgaste dos atletas durante o período. Meses atrás, o técnico da equipe, o argentino Héctor Cúper, manifestou preocupação. “Quando vou dar treino? Às cinco da manhã? Não posso treinar alguém que não ingere líquidos, nem tem calorias no corpo”, disse ao jornal La Nación.

A maioria das seleções com islâmicos no elenco deve deixar a cargo dos jogadores a decisão sobre o impasse. “O ideal é conseguir deixar o regime do Ramadã mais maleável. Pode ser um risco à saúde segui-lo e competir. Em uma partida é possível perder até 5 quilos”, explicou Joaquim Grava, médico do esporte do hospital São Luiz Morumbi, em São Paulo, e consultor médico do Corinthians. “O combustível do atleta é a alimentação. Sem comida, não é possível nem se movimentar”, completou.

JEJUNS E ESFORÇO – As equipes de países muçulmanos estão acostumadas a se desdobrar na época do Ramadã. O técnico brasileiro Marcos Paquetá trabalhou por 15 anos em diferentes países árabes e enfrentou situações inusitadas.

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Quando dirigiu a Líbia, ele levou o elenco em pleno Ramadã para uma partida das Eliminatórias em Moçambique, marcada pela seleção local para 15 horas. “Consultamos vários médicos e tentamos amenizar os problemas com o jejum. Chegamos a convencer os atletas a pelo menos bochechar água para ajudar. Usamos toalhas úmidas também”, contou.

Treinador da Arábia Saudita na Copa do Mundo de 2006, Marcos Paquetá disse que era necessário compreender as diferentes linhas religiosas dos atletas, como a divisão entre sunitas e xiitas. Em ocasiões mais decisivas, as suas equipes procuraram autoridades religiosas para autorizarem os jogadores a cumprir o jejum em outras datas.

O ex-atacante Victor Simões atuou por quatro anos na Arábia Saudita e disse que no país o Ramadã é cumprido com rigor. “Os treinos do time eram transferidos para o período da noite. Logo depois do entardecer os jogadores faziam fila no refeitório para comer. Alguns até iam treinar depois, mas passavam mal”, revelou.


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