Chefe do governo alemão defende cessar-fogo imediato no território palestino, mas rejeita propostas para que a União Europeia suspenda acordos com Israel.O chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz, fez críticas a Israel em uma coletiva de imprensa nesta sexta-feira (18/07), em Berlim, e afirmou que as ações do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu na Faixa de Gaza "não são mais aceitáveis".
Ele demandou um cessar-fogo imediato na guerra no território, que já deixou mais de 58 mil palestinos mortos.
Merz também pediu mais assistência humanitária aos moradores de Gaza – algo que tem sido prejudicado pela decisão de Israel de vetar os programas de ajuda internacional que eram ativos em Gaza e permitir apenas a atuação da controversa Fundação Humanitária de Gaza (GHF), administrada pelos EUA e apoiada por Israel.
A forma como a GHF distribuiu ajuda humanitária é apontada por críticos como uma armadilha mortal para os moradores de Gaza que buscam desesperadamente por comida.
"Agir corretamente" tanto com Israel como palestinos
Merz disse que mantém contato regular com Netanyahu e que se ofereceu para aumentar a ajuda alemã ao território palestino.
Ele observou que seu governo "não apoia" a política de assentamentos de Israel, e que expressou claramente essa posição em suas conversas com Netanyahu.
"Nossa posição é clara. Estamos fazendo tudo o que podemos para agir corretamente com ambos os lados [Israel e palestinos em Gaza]", disse Merz.
Também nesta sexta-feira, a imprensa alemã noticiou que o Departamento Federal de Migração e Refugiados (Bamf) voltou a acolher pedidos de refúgio protocolados por cidadãos de Gaza, após suspender a análise em janeiro de 2024, argumentando que a situação na região era "temporariamente incerta".
Merz apontou que "o Estado de Israel deixaria de existir" se não se defendesse. Ao mesmo tempo, "vemos o sofrimento do povo palestino e também estamos tentando fazer tudo o que podemos para prestar assistência humanitária".
A classe política da Alemanha costuma argumentar que o país europeu tem uma responsabilidade histórica com o Estado de Israel em função do Holocausto na Segunda Guerra Mundial. Dessa forma, a Alemanha vem sendo um dos mais firmes apoiadores de Israel durante a guerra em Gaza, fornecendo apoio diplomático e militar significativo.
O chanceler federal rejeitou apelos para a suspensão dos acordos de associação da União Europeia (UE) com Israel. Também repeliu qualquer equivalência entre a invasão da Ucrânia pela Rússia e a ação de Israel em Gaza, argumentando que a Rússia lançou uma guerra de agressão, enquanto Israel se defende do Hamas.
A ofensiva de Israel em Gaza e outras partes do Oriente Médio teve início após o país sofrer um ataque em 7 de outubro de 2023 liderado pelo Hamas, considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos, UE e outros. A ação provocou a morte de cerca de 1.200 pessoas, a maioria civis, e terminou com o sequestro de outras 250.
O conflito deflagrado em Gaza desde então deixou mais de 58 mil mortos, a maioria mulheres e crianças, de acordo com dados do Ministério da Saúde do território palestino. A ONU considera os números amplamente confiáveis, e uma pesquisa independente publicada na revista Nature no final de junho afirmou que o Hamas, próximo de 84 mil.
Integração de imigrantes
Em uma aparente crítica à ex-chanceler federal Angela Merkel, Merz aludiu nesta sexta-feira ao famoso mantra otimista "vamos conseguir", repetido por ela para encorajar alemães a confiar na política do governo de acolhida a refugiados : "Hoje, sabemos que, quando se trata disso [integração de estrangeiros], claramente não conseguimos".
Merz disse que é por esse motivo que seu governo busca fazer uma correção de rumo, algo que já teria começado.
Embora tenha alegado que a Alemanha não conseguiu integrar verdadeiramente os imigrantes na sociedade, como Merkel havia prometido em 2015, Merz disse que continua apoiando a imigração para o mercado de trabalho alemão.
Segundo ele, a Alemanha tem sido um país favorável aos imigrantes há anos, mas acrescentou: "Temos que controlar a imigração, temos que ser melhores no controle".
Uma maneira pela qual Merz e seu governo têm buscado controlar o influxo de imigrantes é reforçando o controle de suas fronteiras nacionais — apesar de isso ir contra o acordo do espaço Schengen.
Merz disse que as medidas de controle de fronteiras da Alemanha são temporárias, e agradeceu à vizinha Polônia por reforçar suas fronteiras externas e as da UE.
O chanceler federal disse ainda que a Alemanha também está disposta a ajudar a defender as fronteiras externas da UE, mas afirmou que, até que a UE encontre uma solução duradoura, a Alemanha não terá outra escolha a não ser controlar suas próprias fronteiras.
bl/ra (DW, dpa)