22/09/2017 - 20:30
Leia entrevista com Richard Hilmer, diretor do instituto alemão Policy Matters
Quais são os motivos que mantém a chanceler Angela Merkel há 12 anos no poder?
Seu governo foi muito bem sucedido. A Alemanha saiu de uma séria crise financeira em 2008 e enfrentou a crise econômica na Europa com muito mais força do que outros países europeus. As pessoas também apreciam seu estilo de governo: bastante pragmático e eficiente, avesso a conflitos.
Merkel conseguiu chegar às vésperas da eleição com cerca de 40% das intenções de voto. A que se deve esse favoritismo?
Nos últimos dias, a União Democrata Cristã perdeu um apoio significativo, mas ainda assim se manteve muito a frente do adversário, o Partido Social Democrata. Um dos motivos que explica esse favoritismo é que as pessoas têm mais confiança na liderança de Merkel, que é mais experiente que seu principal concorrente, Martin Schulz.
Nos últimos anos, a CDU defendeu causas tradicionalmente ligadas à esquerda. O partido mostrou grande capacidade de adaptação?
Merkel mudou a CDU em muitos aspectos, como, por exemplo, em temas relacionados à família, migração e política social. O partido passou de uma posição de centro-direita para centro esquerda. Isso foi muito bem sucedido porque limitou o apoio e o espaço do SPD.
Quais são os desafios de Merkel nos próximos quatro anos?
As questões mais críticas continuarão sendo o acolhimento dos refugiados, a articulação em torno da consolidação da União Europeia e o relacionamento com os EUA e a Rússia. No âmbito interno, a pensão para a população idosa entrará para o debate com mais força.
A Alemanha se tornou uma espécie de “porto seguro” em um continente ameaçado pelo surgimento da extrema direita, da xenofobia e do radicalismo islâmico?
Sim. Os alemães estão conscientes que estão em uma condição mais favorável do que a maioria dos países, mas parte da população sente o abismo entre pobres e ricos crescendo mais rapidamente. Muitas pessoas temem a pobreza entre idosos, a crescente criminalidade e o declínio da solidariedade na sociedade.
Quais razões explicam o crescimento de grupos de direita no país?
A imigração. Para se ter ideia, antes da crise dos refugiados, o AfD possuía entre 3% e 4% de apoiadores. Depois, o índice aumentou para 15% e agora oscila entre 10 e 12%. Esse apoio se relaciona ao declínio nas instituições democráticas e o medo das consequências da globalização.
Como o senhor avalia a força do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) como oposição?
O AFD tem chances reais conquistar um lugar no parlamento alemão. Se isso, de fato, ocorrer será a primeira vez que um partido de direita terá assentos no parlamento. Os debates serão mais grosseiros do que antes. Mas vale dizer que no Bundestag, o AfD estará completamente isolado.
Como será a coalização partidária caso Merkel vença a disputa?
Teremos duas opções: uma coalizão entre CDU, FDP e os Verdes ou uma aliança entre Merkel e os líderes do SPD. Ambas não serão fáceis.