22/09/2017 - 20:30
Leia entrevista com o Prof. Dr. Kai Michael Kenkel, professor do Instituto de Relações Internacionais na PUC do Rio de Janeiro e pesquisador do Instituto Alemão de Assuntos Globais.
O que mantém a chanceler Ângela Merkel há 12 anos no poder?
Ela tem um jeito pragmático, uma abordagem de quem procura resolver problemas. Merkel se posiciona com clareza quando o assunto é importante. Na questão dos refugiados ela se posicionou, é uma mão estável no leme do país. Ela oferece uma continuidade e calma e o eleitorado alemão gosta de previsibilidade. Outros países gostam de ver a Alemanha forte. Além disso, recentemente, la trabalhou temas tradicionalmente abordados pelo SPD, o que a fez angariar apoio.
Às vésperas do pleito, ela se mantém na liderança com 40% das intenções de voto. Como o senhor avalia esse favoritismo?
Ela tem uma base tradicional, um apoio consistente e uma sociedade que quer estabilidade. Os eleitores dela são pessoas que querem continuidade, que apoiam a política de acolhimento aos refugiados, por exemplo. No pós-guerra, formou-se um consenso político de que o centro deve ser relativamente forte, por isso, o sistema não gera extremismos. Mas, no leste do país, esse consenso não é muito forte.
Nos últimos anos, a União Democrata Cristã defendeu plataformas que atendiam causas ligadas à esquerda. O partido mostrou grande capacidade de adaptação?
Num sistema de coalizão, como o da Alemanha, existe uma tendência de adaptação. E durante os últimos quatro anos, Merkel teve uma grande capacidade de adaptação. Movendo-se para a esquerda, a CDU deixou aberto o espaço do centro direita. A direita conservadora já não se sente representada no partido. Isso contribuiu para o crescimento da direita conservadora. A direita populista representada hoje pelo partido Alternativa para a Alemanha (AfD).
Hoje a Alemanha se tornou uma espécie de porto seguro em um continente ameaçado pelo avanço da extrema direita, xenofobia e radicalismo islâmico?
Como disse, o próprio sistema é feito para não favorecer o extremismo, temos esse consenso sobre a história do país. Mas, quando um partido de direita chega a 5% ou 8% já provoca temores. Na Bélgica, por exemplo, partidos de direitas chegam a obter cerca de 30% nas intenções de voto. O tabu é mais forte na Alemanha é mais forte em função da nossa história. A parte oriental e ocidental construíram histórias muito diferentes nos últimos 70 anos. Esse potencial de angariar seguidores para o populismo é uma tendência mais forte no leste também pela fragilidade econômica.
Qual a força do partido Alternativa para a Alemanha como oposição?
Nenhum partido político vai aceitar fazer coalizão com a AfD. Eles serão a voz de quem não faz parte desse consenso entre os partidos. Com uma grande coalizão a tendência é que a oposição perca força.
A parcela que vota na Alternativa para a Alemanha está exercendo o voto de protesto?
Há outras formas de melhorar o sistema político alemão que não votar na extrema direita. O próprio surgimento desse partido é um problema. É uma das eleições mais importantes desde o pós-guerra, porque impõe o desafio de lidar com um partido que se coloca fora do consenso estabelecido pela Segunda Guerra. Isso é muito perigoso. O captar. Os partidos precisam resgatar essa parcela alienada do eleitorado. O caminho é ocupar o centro com estabilidade.
Como será a coligação entre os partidos políticos nos próximos anos de Merkel?
Teremos a coalizão Jamaica, formada pela CDU, os liberais e os verdes ou a grande coalizão entre CDU e SPD. É interessante ter um governo que cuide dos interesses de toda a população. A coalizão Jamaica faria Merkel abrandar mais ainda o programa de governo.
Quais motivos explicam o crescimento dos partidos de extrema direita no País?
A CDU teve de abrir mão de certas posições tradicionalmente defendidas pela direita. Ao mesmo tempo, uma crescente parcela da população que não se sente representada pelos partidos tradicionais e enxerga os imigrantes como uma ameaça ganhou espaço e se sente representada pela AfD e grupos de direita.
Os eleitores na Alemanha são majoritariamente pessoas com mais de 30 anos. Qual o impacto da participação dessa faixa etária para as eleições?
A população e o eleitorado estão mais velhos e colocam em pauta assuntos específicos. O debate da aposentadoria, o crescimento da pobreza entre pessoas mais velhas, por exemplo, devem ganhar destaque. Além disso, pessoas mais velhas tendem a votar na direita, em partidos de centro e possuir um posicionamento mais fechado para a sustentabilidade. Os grandes partidos têm organizações juvenis fortes.
Quais serão os temas polêmicos enfrentados futuramente?
É interessante que essa campanha não aborda temas como o superávit do comércio, a população mais velha crescente. O que vem pela frente é a necessidade de definir o papel de liderança da Alemanha na Europa, como lidar com o envelhecimento, o fator previdência, como enfrentar as tensões na Turquia e os ataques terroristas no país.