A ex-chanceler federal alemã Angela Merkel criticou nesta quinta-feira (30/01) o líder e candidato à chefia do governo do partido conservador União Democrata Cristã (CDU) por ter contado com votos da ultradireita para aprovar uma moção parlamentar exigindo regras de imigração mais rígidas.
O atual presidente da CDU, Friedrich Merz, é o candidato às eleições com mais chances de se tornar o próximo chanceler federal. Ele obteve o apoio da sigla de populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD) para aprovar um texto apresentado por sua legenda numa votação parlamentar nesta quarta-feira, sendo acusado de romper um tabu e quebrar o “cordão sanitário” contra a ultradireita, algo que ele mesmo havia rejeitado no passado.
Em comunicado, Merkel considerou “equivocado” que Merz se desvincule do compromisso de não formar maiorias parlamentares com a AfD: “Essa proposta e a posição associada a ela foram uma expressão de grande responsabilidade política, que eu apoio totalmente”, afirmou. “É errado não se sentir mais vinculado a essa proposta e, portanto, pela primeira vez, ter permitido deliberadamente em 29 de janeiro uma maioria com os votos da AfD em uma votação no Bundestag alemão.”
Na votação de quarta-feira, a CDU, juntamente com o partido-irmão União Social Cristã (CSU) – com que forma bancada parlamentar única – contaram com os votos da AfD para aprovar uma resolução para que as fronteiras da Alemanha sejam permanentemente policiadas e que todos os migrantes ilegais sejam rejeitados.
Ataque gerou debate
A moção foi apresenta pelos conservadores em reação a ataques letais atribuídos a imigrantes e solicitantes de refúgio. No último deles, em Aschaffenburg, um requerente de refúgio afegão que deveria já ter sido repatriado matou a faca duas pessoas, incluindo uma criança.
Merkel pediu que a CDU, em vez de se alinhar com a AfD, trabalhe com “partidos democráticos” para buscar soluções “com base na legislação europeia vigente” para evitar novos ataques desse tipo. Com essa manifestação, a ex-chefe de governo abandona a postura adotada desde que deixou o cargo em 2021, de evitar comentar diretamente os debates políticos do país.
O atual líder da CDU tem se posicionado mais à direita desde que assumiu o controle do partido, tendo prometido uma linha mais dura em relação à imigração, mesmo antes dos ataques recentes, e criticado a política migratória da gestão de Angela Merkel.
As pesquisas mostram que os conservadores de Merz lideram as intenções de voto para as próximas eleições gerais, com cerca de 30% de apoio, enquanto a AfD está em segundo lugar, com cerca de 20%, à frente dos partidos Social-Democrata (SPD), do chanceler federal Olaf Scholz, e Verde, seu atual parceiro de coalizão.
md/av (EFE, AFP)