Se olharmos pelo lado dos parlamentares democratas dos EUA, que são maioria na Câmara, um muro na fronteira americana com o México não é o simples capricho de um presidente egocêntrico e bastante infantilizado – trata-se, isso sim, da materialidade de uma perigosa ideologia nacionalista. Se olharmos a coisa pela ótica de Donald Trump, o muro em questão tem de fato a função de traduzir ao seu país e ao mundo o apoio a tal política intolerante em relação à imigração. É claro que qualquer nação deve coibir o ingresso de imigrantes ilegais, mas por meio de leis e não de barreiras físicas. A queda de braço entre democratas e a Casa Branca, que completou 33 dias na quarta-feira 23, paralisou a aprovação do Orçamento, pois Tump se recusa a assiná-lo caso não contemple US$ 5,7 bilhões para a construção do muro. Os democratas, por sua vez, o consideram “imoral”. Nos últimos dias, Trumpo fez uma oferta e achou que ganharia a parada: ampliaria a permanência de imigrantes que serão expulsos. O truque não funcionou. São eles os “dreamers”, jovens beneficiários dos programas sociais de proteção. Esse imbróglio que leva os EUA ao imobilismo chama-se “shutdown”, já deixou sem salário 800 mil servidores federais e, ironicamente, 42 mil audiências que tratariam de imigração ilegal foram suspensas. No final da semana passada, o número de trabalhadores faltosos na área de segurança dos aeroportos bateu recorde e passageiros vivenciaram o caos no momento do embarque. Na quarta-feira, mais postos de checagem foram interditados em nome da segurança. E também em nome do novo “muro da vergonha” (o primeiro foi o que dividiu a Alemanha após a guerra) que Trump quer impor à humanidade. Também na quarta-feira, à noite, o senado americano marcou uma votação para o dia seguinte tentando colocar fim ao “shutdown”. Uma das propostas em pauta previa a liberação dos US$ 5,7 bilhões para a construção do muro.

Ron Sachs/Pool via Bloomberg

Governo fechado

33 dias
> Duração da atual paralisação do governo, até a quarta-feira 23

800 mil
> Servidores federais não recebem salário a mais de um mês

9
> Agências federais estão sem dinheiro para operar

42 mil
> Audiências sobre imigração ilegal foram suspensas

TECNOLOGIA
Google sofre multa recorde de 50 milhões de euros

JUSTIN SULLIVAN / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP)

A agência regulatória francesa de proteção de dados aplicou uma multa recorde, sob a nova legislação europeia nesse setor, à empresa Alphabet, proprietária do Google: 50 milhões de euros (aproximadamente R$ 215 milhões). Segundo as autoridades, o Google não informou seus usuários, de forma clara e objetiva, sobre o uso de dados pessoais. Ou seja: não teria havido empenho suficiente na “obtenção de consentimento” antes de “reunir dados e direcioná-los para fins publicitários”. Em sua decisão, a Comissão Nacional de Informática e Liberdade (CNIL) afirma que a “sanção foi dada” devido à “falta de transparência, informação insatisfatória e ausência de anuência válida”. As novas normas de proteção de dados na União Europeia passaram a vigorar no ano passado e a multa imposta ao Google corresponde à primeira manifestação da CNIL em relação a uma plataforma digital global.

NEGÓCIOS
O frango paga o pato?

A Arábia Saudita é quem mais compra carne de frango do Brasil – 486,4 mil toneladas em 2018. Agora o governo saudita cortou de 58 para 25 o número de frigoríficos brasileiros que continuarão operando comercialmente com o país. Na realidade, a restrição afeta somente cinco empresas entre as 30 que estavam exportanto regularmente. A Associação Brasileira de Proteína Animal ligou o embargo a “critérios técnicos”. Na quarta-feira 23, no entanto, já se falava que o frango está pagando o pato: o boicote seria reação à intençao de Jair Bolsonaro de mudar a embaixada brasileira em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém.

SOCIEDADE
Vestido da“Belle de Jour”

John Springer Collection

Na vida real e no cinema, o estilista Yves Saint Laurent vestiu a atriz francesa Catherine Deneuve, a quem chamava de “minha musa”. Agora, aos 75 anos, Deneuve se desfez de sua casa na Normandia onde guardava toda a coleção de 130 vestidos da alta costura que Saint Laurent produziu para ela. Decidiu então levá-los a leilão na Christie’s de Paris – entre eles, os trajes com que atuou no clássico “Belle de jour” (foto), dirigido por Luis Buñuel. Outra preciosidade do leilão: o vestido que usou na ocasião em que conheceu Alfred Hitchcock, em 1969.

CARNAVAL
Público com povo

Tomaz Silva/Agência Brasil

Um: o Brasil carece resolver a sua falta de leitos psiquiátricos públicos. Dois: os poderes republicanos precisam deixar de se atropelarem. Um + dois, é bem-vindo o inteligente enredo do bloco “Tá pirando, Pirado, Pirou”, do Rio de Janeiro. Homenageia o escritor Lima Barreto (duas internações no Hospício Nacional). O nome do samba é “Na terra dos bruzundangas”, título de um de seus livros sobre propinas e corrupção – coisas que existem, aqui, também porque a decretação da República foi uma quartelada à qual ao povo só coube assistir. Referindo-se a tudo isso, Lima Barreto dizia que “o Brasil não tem povo, tem público”. O “Tá Pirando” tem muito público composto de povo.

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