Mercosul e União Europeia iniciam neste domingo, dia 10 de dezembro, uma rodada de reuniões que tem chances de terminar com um anúncio histórico: que as negociações do acordo de associação entre os dois blocos foram concluídas do ponto de vista político, depois de 20 anos de altos e baixos. No melhor dos cenários, alguns pontos ainda ficarão em aberto, mas haverá um rumo claro a ser percorrido pelos técnicos até a efetiva assinatura do acordo.
As conversas ocorrerão em Buenos Aires, a partir deste domingo, em paralelo à reunião ministerial da Organização Mundial do Comércio (OMC). Para os negociadores, o ideal é anunciar o “acordo político” durante o evento, que termina na quarta-feira, dia 13. O presidente Michel Temer participará da cerimônia de abertura da reunião da OMC neste domingo ao lado do argentino Maurício Macri, e dos presidentes do Paraguai, Horácio Cartes, do Uruguai, Tabaré Vázquez, e do Chile, Michelle Bachelet.
“O acordo é o primeiro grande lance de inserção do Mercosul na economia mundial”, disse ao jornal ‘O Estado de S. Paulo’ o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes. E o bloco sul-americano foi criado, há 26 anos, para ser uma zona de livre comércio e para buscar essa integração.
Ofertas
O chanceler ressalvou que a negociação ainda não está concluída. Os dois lados esperam novas ofertas em Buenos Aires. Para alinhar posições nesse tema, já estava programada uma reunião de chanceleres do Mercosul neste domingo de manhã, antes da abertura da reunião da OMC.
O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Marcos Pereira cita dados de um estudo elaborado pela Fundação Getúlio Vargas, segundo o qual as exportações terão um incremento de 12,3% até 2030. Na mão inversa, as importações crescerão 16,9%.
O acordo garante a Mercosul e União Europeia condições privilegiadas no acesso aos mercados um do outro. Aos europeus, interessa principalmente ampliar a venda de produtos industrializados. Para os sul-americanos, um ponto prioritário é garantir melhor acesso dos produtos agropecuários.
Perguntas para João Gomes Cravinho, embaixador da UE no Brasil
1. O sr. disse num evento público que “não é possível contar com os EUA como força positiva da governança global”. Por quê?
O grande problema que temos é a abdicação da liderança que os EUA tiveram em relação a mecanismos de coordenação global. Esperamos que eles voltem a ser uma força positiva. Mas, nesse momento, não vemos isso. Temos de encontrar outras formas de trabalhar que não passem por esse pressuposto de que os EUA nos apoiarão na governança global.
2. Daí a importância de alianças que a UE possa fazer?
Exato. A União Europeia torna-se cada vez mais necessária no mundo contemporâneo. E nós olhamos para o Brasil como um parceiro fundamental, porque não podemos fazer esse trabalho sozinhos.
3. O anúncio do acordo Mercosul – UE na reunião a OMC seria um contraponto forte às posições dos EUA?
Ainda não chegamos a um acordo. Estamos trabalhando, aproximando posições e temos esperança de chegar a um acordo em breve. Seria bom se pudéssemos anunciar em Buenos Aires. Mas não é fundamental. O fundamental é chegarmos ao acordo num prazo relativamente curto e há um trabalho muito intenso para que isso aconteça.
4.Quais os impactos desse acordo?
Acho que podemos visualizar uma duplicação do comércio num espaço de seis a oito anos. E também um incremento de investimento nos dois sentidos. Já temos um fluxo de investimentos grande, se houver um arcabouço jurídico e político de um acordo de associação, isso oferece ainda mais segurança aos investidores. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.