O Mercosul ainda não chegou a um consenso sobre a passagem da presidência rotativa do bloco à Venezuela, depois de um encontro marcado por tensões no encontro de chancelarias celebrado em Montevidéu nesta segunda-feira.

Ao fim do que o chanceler anfitrião, Rodolfo Nin Novoa, classificou de reunião “informal”, que segundo sua colega venezuelana, Delcy Rodríguez, não aconteceu porque os representantes de Brasil e Paraguai “não quiseram dar as caras à Venezuela”, a divergência foi confirmada pelos sócios fundadores do grupo.

Em coletiva de imprensa, Nin Novoa, o chanceler paraguaio Eladio Loizaga, o vice-chanceler argentino, Carlos Foradori, e o subsecretário para América Latina e Caribe da chancelaria brasileira, Paulo Estivallet, reconheceram que as diferenças persistem e que o tema será mais discutido com seus respectivos governos.

“Cada um dos países está mantendo sua posição”, disse Nin Novoa.

“Nos demos um prazo até a próxima quinta-feira, para que se façam consultas necessárias entre todos os países”, acrescentou, indicando que as consultas passarão a “uma escala mais acima”, a dos presidentes.

A declaração das partes desmente a chanceler venezuelana, que minutos antes havia dito aos jornalistas que a presidência pro tempore seria passada do Uruguai à Venezuela nos próximos dias.

Nin Novoa, contudo, deixou claro que o bloco continua “discutindo” e “analisando” suas opções. A postura de seu país, atual presidente pro tempore do grupo, é favorável à passagem da presidência à Venezuela.

Já o Brasil quer que a passagem da presidência seja prorrogada até agosto. Na semana passada o chanceler José Serra foi a Montevidéu manifestar sua “preocupação” com a situação na Venezuela.

O Paraguai afirmou reiteradamente que considera que o governo de Nicolás Maduro busca silenciar o Parlamento.

“(Queremos que) aquele que nos representa tenha as credenciais exigidas pelo Tratado de Assunção”, reiterou nesta segunda-feira o chanceler paraguaio.

O presidente argentino, Mauricio Macri, também foi muito crítico sobre a situação na Venezuela. O governo venezuelano de Maduro “violou todos os direitos humanos e levou a fome e o abandono à população venezuelana. Por isso, precisam de um referendo, precisam de eleições o mais rápido possível”, disse ao jornal espanhol ABC.

A reunião que não foi

A declaração, em que cada país reiterou sua posição e pediu o diálogo no interior do bloco, desmentiu as afirmações de Rodríguez à imprensa, garantindo que a passagem da presidência tinha sido acordada com o Uruguai.

Nin Novoa insistiu que essa decisão deve ser tomada por consenso.

Rodríguez disse ainda que o chanceler paraguaio e o representante brasileiro para o encontro “se esconderam no banheiro” e “não quiseram dar as caras à Venezuela”.

“Se estivemos no banheiro foi porque a necessidade fisiológica nos chamou”, respondeu o ministro paraguaio.

O Mercosul atravessa uma de suas piores crises após uma época difícil de relações comerciais entre os sócios do grupo, fundado em 1991.

A passagem da presidência pro tempore de seis meses, que segundo as normas do bloco corresponderia à Venezuela, que segue o Uruguai por ordem alfabética, se transformou em motivo de discussão e expôs as diferenças entre os governos.

A Venezuela entrou no bloco como membro pleno em 2012, em uma cúpula realizada na Argentina quando o Paraguai estava suspenso, depois do processo parlamentar que destituiu o então presidente Fernando Lugo.

O Congresso paraguaio era o único que não havia aprovado a entrada da Venezuela e seu voto era o único requisito restante para que Caracas se integrasse ao Mercosul.

Essa crise acontece em um momento delicado para o bloco regional, que relançou a negociação de um tratado de livre comércio com a União Europeia.