“Falhamos mecanicamente, falhamos aerodinamicamente”: sem ter conseguido nenhuma vitória até a metade da temporada 2022 da Fórmula 1, o chefe da Mercedes, Toto Wolff, reconhece em entrevista à AFP a nova realidade da equipe, oito vezes campeã mundial entre 2014 e 2021.
Pergunta: Antes do 12º Grande Prêmio do ano, no domingo, na França, a Mercedes não ganhou nenhuma corrida nesta temporada, algo que não acontecia desde 2011. Isso era esperado?
Resposta: “Sempre soubemos que algum dia seria mais complicado. Tivemos oito anos de grande êxito, elevamos os limites como nunca antes em nenhum esporte, ganhando oito vezes o campeonato do mundo, mas nunca se está preparado para um dia encarar as dificuldades e agora estamos nessa situação”.
P: Vocês erraram na sua solução aerodinâmica?
R: “Sim. Na Fórmula 1 o relógio nunca mente e hoje ele diz que não somos rápidos. Assim são as coisas. Falhamos mecanicamente, falhamos aerodinamicamente. Nunca é só uma coisa, é uma combinação delas”.
P: Vocês ainda podem ganhar alguma corrida até o final da temporada?
R: “Antes dos treinos no circuito Paul Ricard (onde é disputado o GP da França), tinha dito que sim. Hoje nos perguntamos por quê estamos a um segundo de Max Verstappen, a seis décimos da Ferrari… Estamos longe de poder sonhar com vitórias”. (A entrevista foi realizada antes do treino classificatório de sábado, no qual a Mercedes mais rápida foi a de Lewis Hamilton, com o quarto tempo).
P: Hamilton, sete vezes campeão do mundo, está frustrado, mas mantém uma atitude profissional. Isso te surpreende?
R: “Não me surpreende, com seu profissionalismo nas análises de dados, as sessões. Ele é claro, lúcido, transparente, tranquilo. É impressionante, inclusive para um piloto sete vezes campeão do mundo”.
P: Internamente, ele dá sinais de irritação?
R: Nenhum. Ao contrário, quanto mais difícil, mais tranquilo ele está”.
P: Ele vai deixar a Fórmula 1 se não ganhar esta temporada?
R: “Não, ele ama o que faz, falar de desenvolvimento, ajudar a equipe. Não o vejo abandonando a Fórmula 1 a curto prazo”.
P: O título mundial já está definitivamente perdido? Se a resposta for sim, quem você vê como campeão de 2022, Verstappen ou Leclerc?
R: “Sim, já acabou (para a Mercedes) a luta pelo título. Seria bom para o esporte se Leclerc puder continuar lutando pelo campeonato até o final. Charles é um piloto excepcional, tem uma grande personalidade e merece ganhar. Não sei se isso o ajuda muito, mas se eu pudesse escolher, escolheria ele”.
P: Você já está pensando em 2023?
R: “O regulamento não muda no ano que vem, então primeiro temos que compreender o que funciona e o que não funciona no nosso carro, antes de começar a pensar no carro da próxima temporada. Este ano é um teste de grande amplitude e por enquanto não chegamos às conclusões necessárias para decidir um caminho de desenvolvimento para o ano que vem”.
P: Você disse que ver a Red Bull e a Ferrari tão mais fortes distorcia o campeonato. Isso não é paradoxal para uma pessoa de uma equipe que dominou amplamente nos últimos anos?
R: “Sim, é um pouco absurdo nesse contexto. Mas não é o que eu queria dizer. Disse que na minha opinião faltava emoção este ano”.
P: “Você gostaria de uma batalha equilibrada como a do ano passado entre Hamilton e Verstappen?
R: “Sim, seria bom para o espetáculo, com ultrapassagens, disputas. Espero que a batalha seja intensa, para que todos os fãs aproveitem”.
P: Você já digeriu o desfecho da temporada passada, na qual Verstappen ganhou o título de Hamilton na última corrida?
R: “É preciso digerir. Mas esquecer, nunca”.
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