A montadora alemã Mercedes-Benz, que suspendeu nesta segunda-feira, 15, as operações da fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, e começou a convocar parte dos funcionários para iniciar processos de demissão, disse aos trabalhadores que a interrupção da produção foi feita para que a empresa fizesse uma “avaliação final da redução do excedente de mais de 2 mil pessoas”.

O comunicado foi feito por meio de um boletim interno, enviado na sexta-feira, 12, aos 9,8 mil trabalhadores da unidade. No texto, a Mercedes diz que vive “um dos piores momentos da sua história em função do momento econômico e do reduzido mercado de veículos comerciais e sobre o qual não possui qualquer controle”.

“Essa situação nos levou a uma alta ociosidade e, consequentemente, à necessidade crucial de reduzir o nosso quadro de pessoal. Para agravar ainda mais esse cenário, temos tido momentos de grandes dificuldades em nossa operação”, continua.

Com a suspensão das operações, os 9,8 mil funcionários foram colocados em licença remunerada por tempo indeterminado, com exceção de alguns que ocupam funções consideradas essenciais. Até então, havia 1,8 mil trabalhadores em licença remunerada.

A montadora nega que tenha começado a demitir, mas admite que tem convocado os funcionários para dar início aos “procedimentos rescisórios”. Como quase todo o quadro de funcionários tem estabilidade garantida até 31 de agosto, em razão do Programa de Proteção ao Emprego (PPE), os desligamentos só começariam de fato em setembro.

Até o fim de julho, a montadora dizia que tinha um excedente de “mais de 2,5 mil pessoas” na fábrica. O excesso foi reduzido a 1.870 depois que 630 aderiram a um Programa de Desligamento Voluntário (PDV), aberto no início de junho e encerrado no fim de junho. Hoje, no entanto, mesmo após o PDV, a Mercedes-Benz sustenta que tem um excedente de “mais de 2 mil pessoas”.

A contradição nos números deixou preocupado o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que acredita que a montadora pretende demitir 2 mil funcionários. Eles marcaram para esta quarta-feira, dia 17, uma assembleia para definir e organizar as ações de mobilização. A assembleia ocorrerá em frente à sede do sindicato, em São Bernardo, às 10h.

“A direção da fábrica tomou essa medida extrema de forma unilateral, em meio a uma negociação que havia sido retomada. Temos certeza de que existem alternativas para atravessar esse momento preservando os empregos e não vamos aceitar essa postura. Queremos sensibilizar a empresa para retomar as negociações. Vamos discutir com os companheiros de que forma faremos nossa mobilização”, disse Moisés Selerges, diretor administrativo do sindicato e trabalhador na Mercedes-Benz.