No Brasil, estamos acostumados a conviver, em ano eleitoral, com um mercado nervoso, instável em meio as altas do dólar.

Este ano, porém, o mercado está um pouco diferente – mais estável, menos nervoso. Que fatores, afinal, estariam contribuindo para essa relativa estabilidade? Em primeiro lugar, os investidores estão mais preocupados com o quadro externo do que com o interno. Nos Estados Unidos, por exemplo, há expectativa de aumento dos juros. Na Europa, por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia, há grande atenção com a questão energética. Os preços por lá disparam e os juros também devem subir. A China deve apresentar o seu menor crescimento em anos.

Em termos relativos, o Brasil está muito melhor do que outros países emergentes, já que é um dos poucos em que houve elevação da projeção de crescimento. Foi onde houve também a maior revisão. No início do ano, a projeção de crescimento era de 0,5%. A média, no entanto, está em torno de 2,4%. E há quem projete índices superiores a 3%. Fora isso, os dados de crescimento continuam surpreendendo. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central, considerado uma prévia do PIB, subiu 1,17% em julho. Esse número é maior do que o esperado (1% era o teto das projeções). Outro ponto é que já vimos o pico da inflação, que ficou ao redor de 12%. Agora, a expectativa para o fim do ano gira em torno de 6%.

Vale ressaltar que o fiscal de curto prazo no País melhorou depois da pandemia, ao contrário do que ocorreu em outros países. Em outubro de 2020, a relação dívida bruta do governo geral/PIB chegou a 89%, valor recorde para a série histórica do Banco Central. Até julho, recuou para 78,3%, patamar muito próximo do verificado antes da pandemia. Mas continua havendo dúvidas quanto ao longo prazo. Importante acrescentar que o custo para apostar contra a moeda brasileira está alto, já que o dólar permanece em patamar elevado e os juros estão altos. Outro fator relevante é que os dois principais candidatos à Presidência da República com chance de vitória já são conhecidos do mercado, diferentemente de outras nações da América Latina, onde candidatos pouco conhecidos acabaram vencendo.

A avaliação é que o presidente Jair Bolsonaro aumentou o gasto público por conta das eleições. Mas a aposta é que, depois, caso vença as eleições, ele volte a fazer o dever de casa, avançando com as privatizações, a aprovação de reformas e os marcos regulatórios essenciais. O fato de o ex-governador Geraldo Alckmin ser o vice de Lula (PT) foi uma sinalização de que o ex-presidente tenderá a ter um comportamento mais pragmático e menos revanchista, caso suba mais uma vez a rampa do Planalto.