Uma análise do mercado editoria referente ao período 2006-2015 mostra que, embora o número de livros vendidos tenha crescido de 193,2 milhões para 254,7 milhões, a indústria fecha a década com más notícias. O principal revés foi a queda do preço real dos livros (descontada a inflação), que foi de 36%. O faturamento real passou de R$ 1,6 bilhão para R$ 1,4 bilhão.

A pesquisa Dez anos de produção e vendas do setor editorial brasileiro, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe/USP) para o Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e a Câmara Brasileira do Livro (CBL), colheu dados de 189 das 700 editoras do País e concluiu que a expectativa do setor de alinhar seu desempenho ao do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro se frustrou.

“Nosso desafio é como recompor os preços dos livros sem que haja um declínio de vendas. Em 2004, um livro como O Código da Vinci era vendido a R$ 39,90; hoje, custa R$ 44,90, sendo que a inflação de lá para cá foi de 100%”, avaliou Marcos da Veiga Pereira, dono da Sextante e presidente do Snel. Em 2006, os didáticos custavam, em média, R$ 40; hoje, o preço real chega a R$ 27.

A culpa é da crise econômica dos últimos anos. A redução do número de livros comprados pelo governo federal para abastecer o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) também atrapalhou. O crescimento das vendas de livros digitais não compensou as perdas.

O segmento mais afetado na última década foi o de obras gerais (como os livros de literatura). Entre 2009 e 2011, a retração foi de 24,6%; de 2014 para 2015, de 22,8%. Em relação ao setor como um todo, de 2014 a 2015 a queda real de faturamento foi de 12,63% – o pior resultado do mercado livreiro de toda a série histórica de dez anos.

“O segmento dos didáticos não é afetado pelos cortes do governo (o Ministério da Educação tem de providenciar os títulos para todos os alunos do ensino público), mas as obras gerais ficaram impactadas”, explicou Leda Paulani, da Fipe, que coordena a pesquisa anual sobre produção e vendas do setor desde 2008. O índice usado para deflacionar os valores, a título de comparação, foi o IPCA.

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A performance das editoras vem se deteriorando especialmente nos últimos cinco anos, o presidente do Snel ressaltou: “No fim dos anos 1990, com a estabilização da moeda, a queda da inflação, o aumento do emprego, a entrada forte da Avon no mercado de livros, as editoras fizeram uma aposta grande, achando que seríamos uma nação livreira. Foram gerados números inacreditáveis. A partir de 2011, o mercado começou a cair, e demoramos a nos dar conta. A perda de faturamento de 2006 para 2015 foi de R$ 500 milhões. É assustador. A pergunta é: como reverter? Não sei responder. Mas tenho que ser otimista”.

Em relação aos livros da categoria CTP (científicos, técnicos e profissionais), a pesquisa constatou um crescimento de 20% entre 2011 e 2014, na esteira da ampliação da quantidade de vagas em instituições de nível superior no Brasil pelo Programa Universidade para Todos (ProUni).

Os livros religiosos tiveram o melhor comportamento dos quatro segmentos: foi o único a superar o PIB, mais notadamente no período entre 2008 e 2010, quando foi lançando o super best-seller Ágape, do padre Marcelo Rossi, com mais de 10 milhões de unidades vendidas.

Pesquisador do setor desde 2003, o professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Fabio de Silos Sá Earp não enxerga possibilidade de reversão da tendência negativa nos próximos 18 meses.

“O mercado está apavorado. Há anos não encontro um otimista. Na crise, as pessoas cortam o que consideram supérfluo, pegam livro emprestado, procuram os que já têm em casa. Os novos hábitos de leitura não são associados a livros, e sim a smartphones”, acredita.

Conforme recente pesquisa do Ibope, 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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