Os juros da dívida soberana de países ricos se encontram no mínimo num patamar histórico, um fenômeno inédito de consequências imprevisíveis, adverte o setor.

Os rendimentos dos títulos japoneses, suíços, americanos ou britânicos batem recordes de baixa quase diariamente no mercado secundário, onde os bancos e os investidores trocam livremente os títulos já emitidos.

Exemplo dessa tendência, o rendimento do bônus alemão a dez anos, de referência no mercado, pode ter de uma hora para outra um rendimento negativo, como já aconteceu com os títulos suíços e japoneses.

“O momento histórico” em que o rendimento do Bund (os títulos alemães a dez anos) poderá cair para zero “parece ser uma questão de tempo”, avisam os economistas do banco alemão LBBW.

Nesta sexta-feira, a taxa de juros do Bund alcançou 0,020%, qundo em 2014 ficava acima de 1%.

A tendência se acentua porque os investidores “buscam qualidade e se refugiam no mercado de renda fixa, considerado como um refúgio de paz”, observa Gilles Moëc, economista-chefe do Bank of America-Merrill Lynch.

Ao investir maciçamente neste mercado, a demanda sobe, o que automaticamente faz os juros baixarem.

O fenômeno desafia a lógica financeira, já que quando um investidor compra um título com uma taxa de juros negativa, tem que pagar ao emissor caso conserve o título até o seu vencimento.

No total, mais de 10 trilhões de dólares de dívida soberana foram negociados com esses juros negativos até o final de maio, segundo a agência classificadora Fitch.

– Correção à vista –

Todos se perguntam quais serão as consequências desse fenômeno.

Bill Gross, gestor do fundo de investimento Janus Capital, conhecido no setor como “o czar das obrigações”, adverte sobre a emergência de “uma bolha que algum dia vai explodir”.

Concretamente, o presidente do Banco Central alemão, Jens Weidmann, adverte sobre o risco de uma violenta correção em forma de uma alta brutal dos juros.

Ao contrário do que se espera, os juros baixos não são tanto o reflexo das projeções do mercado em matéria de crescimento e inflação (que, portanto, seriam extremamente baixos) nem da antecipação de políticas monetárias muito generosas e que provavelmente continuarão a ser aplicadas.

O BCE e o Banco do Japão estão formulando uma política de compra maciça de ativos, unida a taxas de juros próximas de zero.

O Federal Reserve (Fed) deixou de comprar ativos e mantém os juros muito baixos, a 0,25%, apesar de um primeiro aumento em dezembro do ano passado.

No panorama de juros baixos influenciam também fatores estratégicos, e os rendimentos “se veem pressionados à baixa pelo maior interesse por ativos seguros, à medida que se aproxima referendo no Reino Unido sobre sua permanência na União Europeia”, destacam os analistas do banco francês Crédit Mutuel.

A tendência se reforçou nessa semana, algo que contribuiu para que o BCE começasse a comprar dívida de empresas.

Essa situação é também resultado de “uma ação totalmente voluntária do Banco Central Europeu”, decidido a reativar o crédito e por extensão o crescimento econômico na zona do euro, destaca Frédérik Ducrozet, analista da firma Pictet.

Segundo ele, a situação continuará assim “enquanto essas condições forem mantidas”, ou seja, “pelo menos até o referendo sobre o Brexit”, em 23 de junho. Na sua opinião, “a situação pode mudar de sentido muito rapidamente”.

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