Reforçados por aromas tão distintos como o das fumaças de mirra e olíbano, esta referência do Egito Antigo, ou de florais, cítricos e herbáceos de aceitação global, os perfumes são hoje itens básicos de consumo amados pelos brasileiros. Responsáveis pelos maiores índices percentuais de crescimento de venda do produto no mundo, os consumidores nacionais se deixam envolver por borrifadas de fragrâncias que aguçam sentidos, emoções e prazeres. “Somos apaixonados por perfumes. Eles estão na nossa cultura”, resume Denise Coutinho, diretora de marketing da Natura. “São também dos mais tradicionais itens de presente. Pelo ritual, o bem-estar e a auto-expressão, eles representam, para nós, muito mais do que um mero hábito de higiene. Estão ligados a questões de manifestação e comunicação”, acrescenta ela.

O mercado nacional é o segundo do mundo em tamanho, atrás apenas do americano.

Movimenta aproximadamente R$ 16 bilhões ao ano.

De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), 78% dos brasileiros consomem algum tipo de perfume e o índice médio de crescimento anual do mercado bateu nos dois dígitos nos últimos anos.

No mercado internacional, as coisas também andam bem.
No primeiro bimestre de 2024, as exportações brasileiras do setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos alcançaram US$ 133,5 milhões, alta de 7,7% em relação aos dois primeiros meses de 2023.
As importações no mesmo período totalizaram US$ 128,5 milhões, aumento de 3,8%.

Estudos da consultoria McKinsey apontam que o mercado global de beleza deverá atingir US$ 580 bilhões de dólares de faturamento anual em 2027.

Os importados, sobretudo europeus, se destacam no País.

Rodrigo Lopes, diretor da Excellence Importadora, que traz os ingleses Creed para o Brasil, atesta que o mercado brasileiro de fragrâncias de nicho cresce de forma significativa. “O consumidor não precisa mais sair do País para descobrir novas marcas”, diz.

O mercado de alto luxo, que inclui perfumes refinados, deverá crescer entre 6% a 8% anuais até 2030, podendo atingir R$ 133 bilhões de faturamento no período.

Mercado de perfumes se consolida no Brasil e avança em fragrâncias incomuns
Produtores do País ganham espaço no mercado apostando em Ingredientes encontrados na natureza e em métodos de produção sustentável (Crédito:Divulgação )

Empresas que utilizam ingredientes naturais e adotam produção sustentável ganham terreno. Uma das precursoras no uso de insumos nacionais e embalagens recicláveis, a Natura reforça a importância da regeneração ambiental e social e da redução de resíduos. “Nosso portfólio é desenvolvido com a preocupação de gerar impactos sociais, econômicos e ambientais positivos. Temos fragrâncias que utilizam álcool orgânico, que compensam a emissão dos gases de efeito estufa e contribuem para a regeneração da biodiversidade. Os frascos são feitos com até 30% de vidro reciclado, o que diminui índices de resíduos e poluentes”, explica Denise.

Fundada há 55 anos, a Natura é hoje uma das líderes em perfumaria no Brasil e na América Latina. Está presente em mais de 70 países. “A perfumaria nacional não se faz menor em performance, qualidade, inovação e sofisticação quando comparada à internacional. Temos essas qualidades e mais a pluralidade e a riqueza da biodiversidade brasileira”, pontua.

Mercado de perfumes se consolida no Brasil e avança em fragrâncias incomuns
“O mercado cresce no País porque o brasileiro adora variedade e é aberto a novidades”, diz a empresária Julia de Biase, pioneira na importação de fragrâncias árabes (Crédito:Divulgação )

Chegada dos árabes

A perfumaria árabe também vem se tornando conhecida e desejada no Brasil. Nos últimos dois anos, houve um boom de interesse e consumo. Ivana Menezes, sócia e diretora de marketing da BR Brand Imports, importadora desses produtos, discorda da tese de que brasileiro gosta apenas de fragrâncias leves e frescas, por causa do clima tropical. “Os mais vendidos por aqui são os intensos e de longa duração. Os árabes estão alinhados às tendências internas e internacionais”, diz.

A empresária Julia de Biase foi pioneira em importar perfumes árabes no Brasil. Trabalha no ramo desde 2009 e recebe os clientes em sua loja Al Ward, nos Jardins, em São Paulo, com café árabe e chá marroquino, em um ambiente com decoração típica onde tudo está à venda. Além das fragrâncias de diversas marcas trazidas ao País, tem uma própria, a Al Zahra, criada por ela nos Emirados Árabes Unidos.

Os árabes são produzidos à base de madeira oud, âmbar, sândalo, jasmim, açafrão, mirra ou olíbano. Possuem concentração muito maior das notas de base. A fixação é mais duradoura, seja o Eau de Parfum, feito à base de álcool, ou o attar, com óleos essenciais. O movimento de Julia em 2022 somou US$ 70 mil, algo em torno de R$ 380 mil. No ano passado, esse faturamento praticamente duplicou. As perspectivas para 2024 são de crescimento ainda maior. “O consumidor brasileiro adora variedade e é aberto a novidades”, diz. O mercado de perfumes sente, como nunca, o aroma da oportunidade.Mercado de perfumes se consolida no Brasil e avança em fragrâncias incomuns