10/03/2023 - 9:30
Ganhar viagens, hotéis, produtos ou serviços só com o uso de milhas e pontos tem se tornado uma realidade para muitos brasileiros, que apostam cada vez mais nesses benefícios para economizar ou até garantir uma renda extra. No último trimestre de 2022, o número de pontos e milhas resgatados foi 27,1% superior ao de igual período de 2021 e 55,8% ao de 2019, ano que antecedeu a pandemia, segundo a Associação Brasileira das Empresas do Mercado de Fidelização (ABEMF).
Os programas de fidelidade passaram a atrair cada vez mais empresas, que enxergaram nesse mercado uma importante ferramenta para acompanhar e entender seus clientes, assim como desenvolver um relacionamento mais intenso e próximo a eles. Segundo a ABEMF, 65% dos consumidores priorizam os locais com este tipo de programa, que estão cada vez mais flexíveis em opções de resgate. Já em se tratando de viagens aéreas, as transações chegaram a 22,4 milhões em 2021, crescimento de 35,4% sobre 2020 contra 9% sobre 2019, com projeção de continuar crescendo em 2022 e nos próximos anos.
A jornalista Cristiane Moraes é um exemplo desse interesse crescente. “Utilizo programas de milhagem desde que comecei a viajar a trabalho, em 2006. Já usei para hospedagem em hotel, troquei por massagem no shopping, descontos de compras, roupas, cosméticos”, detalha. A publicitária Roberta Lasnaux é outra consumidora voraz dos programas de fidelidade. “Faço praticamente tudo com milhas, desde viagens até compras de itens para minha filha. Estimo que já economizei mais de R$ 200 mil por conta das estratégias de milhas”, revela. De tanto utilizar o sistema, ela resolveu empreender e hoje criou o programa Milhas do Bebê, que é direcionado para os pais que gastam fábulas com fraldas, mamadeiras e roupas.
Especialista em milhas aéreas, o empresário Lucas Fialho explica a diferença entre pontos e milhas. “Todos os programas de fidelidade, como os de gasolina e dos bancos, geram pontos. E esses pontos podem ser transferidos para as companhias áreas, transformando-se em milhas. Podemos utilizar esses benefícios tanto para viajar como para vender, porque milhas valem dinheiro.”
Segundo Paulo Curro, diretor executivo da ABEMF, o cliente está interessado nos diversos benefícios. “Isso acontece seja para aquisição de produtos e serviços com pontos e milhas, ou para garantir descontos e até o cashback, que ajudam nas contas do dia a dia”, conta. Os pontos e milhas emitidos no terceiro trimestre de 2022 atingiram o montante de 138,2 bilhões. Ao todo, foram resgatados 102 bilhões de pontos e milhas, sendo 86,8% convertidos em passagens aéreas. E 13,2% deles foram utilizados para adquirir produtos e serviços.
Cautela
Com essa expansão, em 2022 já havia mais de 68 milhões de usuários de programas de fidelidade. Considerando a população brasileira com acesso à internet – que chega a 152 milhões –, a penetração desse mercado no Brasil é de 45%. “Esse número demonstra um avanço significativo do setor que, há alguns anos, registrava uma estimativa média de 20% a 30% de penetração”, avalia Curro. Para garantir o bom funcionamento desse mercado, a ABEMF criou um código de autorregulação, com a adesão de dez associadas, as principais empresas do setor no Brasil.
Como em qualquer mercado, no entanto, é necessário ter cautela, porque há regras que variam de empresa para empresa. “É preciso tomar muito cuidado: avaliar onde você está depositando essas milhas e como que vai utilizá-las para não fazer nada em desacordo com as regras desse site ou dessas empresas para não correr risco de perder, às vezes uma bolada em milhas”, alerta o economista Ricardo Mello.
O executivo da ABEMF também faz uma ressalva. Desconfie quando a oferta for exageradamente vantajosa. “Quando receber algum aviso de promoção, o cliente deve ir diretamente ao site da empresa ou aplicativo. Os programas de fidelidade têm investido em ótimas promoções, mas é sempre importante ter certeza de que a informação é real”, pondera.
