Não sou ministro do STF.
Não sou desembargador nem Juiz.
Não sou advogado.
Nem síndico do prédio ou, sei lá, escoteiro-mirim.
Pode me chamar de cidadão trouxa que acompanha as notícias do País com a ingênua esperança de que as coisas um dia comecem a melhorar.
Que o País um dia seja mais educado. Mais honesto. Mais saudável. Mais seguro.
Não acredito no conceito liberal de um Estado mínimo.
Nem compactuo com a pré-histórica utopia socialista.
Não concordo com a tributação pornográfica que nos
é imposta.
Na justa medida que também não concordo com os projetos sociais que não se auto-sustentam.
Ninguém com um QI de mais de dois dígitos deveria comprar o que nos vendem a direita ou a esquerda viciadas de hoje.
Na ignorância da polarização atual, pode me chamar de “isentão”.
Ou de trouxa, ficou feliz?
Porque ainda acredito num Estado equilibrado.
Menos paternal, menos controlador. Mais econômico,
mais competente.
Assim como uma criança que cresceu mas ainda quer acreditar em Papai Noel, mesmo compreendendo as evidências de que sua existência é fisicamente improvável.
Acredito que – através da democrática distribuição de recursos -, por exemplo, na educação, a gente aos poucos melhore as condições de vida dos menos favorecidos.
Acredito que um dia surgirá uma elite melhor formada, consciente de sua responsabilidade social.
Vai. Pode falar que eu não ligo: Netão, acredito que você
é um trouxa.
Ponto, parágrafo.
Aí me aparece esse desembargador que imagino ser uma pessoa séria e preparada, sem nenhuma agenda secreta,
e anula o julgamento dos PMs que executaram os presos
do Carandiru.
Podemos discutir por outros 14 anos se são mesmo culpados.
Ou o fato de o governador Luís Antônio Fleury e seu sec.
de Segurança Pedro Franco de Campos jamais terem sido sequer acusados.
Ou ainda se foram omissos ao mandar o cor. Ubiratan sentar o dedo no gatilho e botar na conta dos presos.
Ou a morte suspeita do coronel.
Mas não precisamos discutir. Porque foram julgados e condenados.
Até o desembargador anular o julgamento.
Mesmo assim acredito que o desembargador deva ter lá
suas razões.
Não li as cem páginas de sua decisão.
Já sei que você insistirá que sou trouxa.
Assim, seguia eu trouxo na vida, quando leio que o ministro Luís Roberto Barroso, indicado ao STF pela ex-presidente Dilma, declarou extinta a pena de 7 anos e 11 meses a que foi condenado José Dirceu.
Oi?
Procuro entender o motivo para continuar minha vida trouxa.
E o motivo é nenhum.
Dirceu não está à beira da morte, não surgiram novas provas, não houve equívoco nenhum na condenação ou irregularidade no julgamento.
A extinção da pena deveu-se apenas ao fato de Dilma ter dado ao facínora o indulto natalino.
Os deputados federais João Paulo Cunha e Valdemar Costa Neto também tiveram suas penas extintas sob a mesma alegação.
Dilma levantou a bola e o ministro chutou a pena para escanteio.
Por sorte Dirceu não está livre. Tem ainda vinte anos do Moro para cumprir.
Mas esse fato, sozinho, finalmente provou que você tem razão.
Sou mesmo um trouxa.

Na ignorância da polarização atual, pode me chamar de “isentão”.
Ou de trouxa, ficou feliz? Porque ainda acredito em um 
Estado equilibrado