Para a antropóloga Adriana Dias, vem de longe o apoio neonazista
para Bolsonaro (Crédito:Divulgação)

Não é só a recepção calorosa para a deputada alemã de ultradireita Beatrix Von Storch, neta de um ministro de Adolf Hitler, nem sua evidente simpatia pelas estratégias enganosas do principal propagandista do Terceiro Reich, Joseph Goebbels. A cada dia surgem mais provas do antigo e do atual flerte do presidente Jair Bolsonaro com o nazismo e de seus fortes vínculos com uma ideologia totalitária e mortífera. A última descoberta do pendor genocida do presidente foi uma carta em que ele faz elogios e agradecimentos de fim de ano a apoiadores radicais. Descoberta pela antropóloga Adriana Dias, da Universidade de Campinas (Unicamp), em meio a seu material de pesquisa, a carta, assim como um banner com a foto de Bolsonaro, foram publicadas em três sites, em dezembro de 2004. A foto tem um link que levava ao site que o então deputado federal tinha na época. Adriana estuda grupos neonazistas no Brasil há 20 anos e fez milhares de impressões das páginas da internet para denunciar o fato. Seu objetivo permanente de estudo é obter provas da atuação criminosa. O material que compromete Bolsonaro foi recuperado pelo marido da pesquisadora nos seus arquivos, quando ele a ajudava a se preparar para uma palestra.

Bolsonaro gosta de brincar com o nazismo, posando para fotos ao lado de um sósia de Hitler, por exemplo, e de manter um discurso ambíguo em relação ao assunto, elogiando o desempenho estratégico do ditador na 2ª Guerra Mundial. Chegou a dizer em 2019 que o pensamento de Hitler era de esquerda e acabou desmentido, inclusive pelo Museu do Holocausto. Na carta que envia aos extremistas, tratados como eleitores cativos e prezados, o presidente agradece o apoio e acrescenta: “Todo retorno que tenho dos comunicados se transforma em estímulo ao meu trabalho. Vocês são a razão da existência do meu mandato”. O fato dos sites nazistas estarem no mailing do ex-deputado federal Bolsonaro em uma mensagem de felicitações é evidência suficiente de um vínculo impróprio com grupos criminosos. A mensagem e o banner não foram encontrados pela pesquisadora em nenhum outro site, o que indica ser uma mensagem específica. O que precisa ser recuperado, segundo Adriana, é o email original enviado há 15 anos pelo hoje presidente. O registro existe, mas, por se tratar de informação pessoal, não pode ser obtido pela Lei de Acesso à Informação, mas, apenas, por meio de pedido judicial.

Divulgação

Bisavô soldado

O flerte de Bolsonaro com o nazismo é antigo e já se manifestava na década de 1990. Ele declarou simpaticamente que seu bisavô foi soldado de Hitler e demonstra, há pelo menos duas décadas, uma tolerância inaceitável em relação a algumas ideias e iniciativas do ditador e seus asseclas. Em 1998, defendeu, em um discurso na Câmara, oito alunos do Colégio Militar de Porto Alegre que elegeram Hitler como personagem histórico mais admirado em um levantamento feito pela revista Hyloea, publicada pela instituição. Hitler ficou à frente de Jesus Cristo, Tiradentes e Mahatma Gandhi. Na ocasião, os jovens argumentaram que escolheram o líder nazista por causa de sua “inteligência e audácia”, “dom da palavra” e “poder de indução”.

O próprio Exército e a imprensa se manifestaram fortemente contra a escolha. Para defender os estudantes, Bolsonaro afirmou que eles estavam “realmente carentes de ordem e disciplina nesse país”, já que não recebiam um bom exemplo do governo de Fernando Henrique Cardoso — o brilhante intelectual que o opaco ignorante Bolsanaro gostaria de ter fuzilado. O atual presidente afirmava que os estudantes “têm que eleger aqueles que souberam, de uma forma ou de outra, impor ordem e disciplina”. Embora explicasse que não concordava com “as atrocidades cometidas por Adolf Hitler”, Bolsonaro ressaltou que a revista Hyloea era bancada pelos alunos e eles “têm liberdade de escrever o que bem entenderem”. Pelas leis brasileiras, que devem ser respeitadas, não é bem assim.