Mesmo com a rápida mudança no cenário econômico dos últimos dias após a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, a mensagem do Banco Central divulgada na mais recente ata do Comitê de Política Monetária (Copom) continua válida. A afirmação foi feita pelo presidente do BC, Ilan Goldfajn, em teleconferência com a imprensa estrangeira na manhã desta quarta-feira, 16.

“A mensagem da última ata continua válida”, disse, ao ser questionado sobre eventuais alterações nas perspectivas da política monetária brasileira após a eleição de Trump. Durante a conversa com a imprensa estrangeira, o presidente do BC mencionou duas vezes a mesma frase “a mensagem continua válida”.

Um dos argumentos citados por Goldfajn é que a instituição não prevê qualquer alteração de curtíssimo prazo. “Não esperamos qualquer mudança (na política monetária) de curto prazo nas economias desenvolvidas. O que eu espero é o que eu já esperava antes”, disse, sem detalhar qualquer prognóstico para a trajetória, por exemplo, dos juros nos EUA.

Sobre as incertezas geradas após a eleição nos EUA, o presidente do BC brasileiro citou que acredita que muitas perguntas dos investidores serão respondidas com certa brevidade. “Nós saberemos rapidamente o que vai acontecer. Isso vai levar algum tempo, mas não acredito que será uma espera longa. Isso vai aumentar o entendimento sobre o cenário”, disse Goldfajn, sem citar o nome do novo presidente eleito dos EUA.

Inflação

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, afirmou que 2016 é o ano para o Brasil reestabelecer a confiança e reancorar a expectativa de inflação. Ele fez um rápido histórico sobre os fatores que levaram a inflação brasileira a subir nos últimos anos, citando inclusive fatores políticos que “intensificaram os eventos”, mas afirmou que houve avanços este ano.

Goldfajn lembrou que as expectativas de inflação caíram de 11% para algo em torno de 7% este ano e reforçou que a meta do BC é de 4,5% para 2017.

Ao abordar o crescimento do Brasil, Goldfajn voltou a citar a expectativa de uma recuperação gradual da economia a partir de 2017. “Nosso cenário é de normalização”, disse. Segundo ele, o pior já passou. “Todos preveem recuperação gradual para a produção no Brasil.”

O presidente do BC destacou ainda que as previsões para 2017 foram “para baixo” recentemente por causa da volatilidade do mercado. Ele espera um ano de 2017 ainda muito difícil, com volatilidade.

Também tratou do que chamou dos “eventos das últimas semanas”, ao se referir à eleição de Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos: “Nós continuamos não sabendo o que ocorrerá”, comentou Goldfajn. “É normal ver volatilidade nos mercados. O importante para nós é trabalhar”, disse.

Goldfajn destacou a interrupção dos leilões diários de swaps cambiais reversos no início do choque global, após a vitória de Trump. “Agora estamos dando provisão ao hedge”, afirmou, em referência ao fato de o BC ter voltado a promover leilões diários de swap cambial tradicional (equivalente à venda de dólares no mercado futuro), para conter a volatilidade e dar conforto ao mercado. Segundo ele, as ações desde quarta-feira no câmbio mostram que o regime flutuante está funcionando.

O presidente do BC lembrou que o estoque de swaps atualmente está em nível menor – em torno de US$ 24 bilhões – e, por isso, a instituição tem tranquilidade para atuar no mercado.

Ao mesmo tempo, Goldfajn destacou os fundamentos da economia brasileira, reforçados pela estratégia política. Ele lembrou que o governo está encaminhando reformas importantes para o equilíbrio fiscal, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para limitar o crescimento dos gastos da União e a reforma da Previdência, que deve ser encaminhada ainda em 2016. De acordo com Goldfajn, essas reformas darão mais confiança para a economia no futuro.

Câmbio

O presidente do Banco Central reiterou que o regime de câmbio é flutuante no Brasil, mas reafirmou que a instituição “tem direito” de atuar no mercado da moeda estrangeira quando achar necessário. Desde a semana passada, o BC tem atuado em um esforço para tentar amenizar a volatilidade vista após a eleição presidencial nos Estados Unidos.

“Nós temos o direito de intervir quando nós acreditamos que há falta de liquidez ou excesso de volatilidade”, disse Goldfajn em teleconferência.

Ele citou que o BC tem diversos instrumentos para eventuais atuações, mas preferiu não detalhar quais ferramentas estão à disposição. “Temos o suficiente”, disse, ao reafirmar que a instituição não tem qualquer meta para o dólar. “Não temos uma meta ou um número”, afirmou o presidente do BC.

O presidente do BC voltou a dizer que o mercado de câmbio é flutuante no Brasil e a trajetória da moeda é determinada pelo movimento do mercado. Goldfajn citou que, em certa medida, o próprio mercado atuou na semana passada para reduzir a pressão no câmbio. Ele afirmou que exportadores aproveitaram a alta do dólar ante o real na quarta-feira passada (dia 9), após a eleição de Donald Trump nos EUA, para fechar operações (internalizar recursos no Brasil).

Este movimento mencionado pelo presidente do BC teria continuado nos dias seguintes. Dados divulgados nesta quarta pelo próprio BC mostram, de fato, que na semana passada (de 7 a 11 de novembro) o fluxo comercial brasileiro foi positivo em US$ 2,101 bilhões.

Goldfajn participou nesta quarta de uma teleconferência com a imprensa internacional. Veículos de comunicação do Brasil tiveram acesso, mas não puderam fazer perguntas.