O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central, Fernando Rocha, avaliou nesta quinta-feira, 24, que o déficit de US$ 3,487 bilhões nas transações correntes em setembro foi pior que saldo negativo de US$ 193 milhões de setembro do ano passado graças à redução do superávit na balança comercial brasileira, que caiu de US$ 4,697 bilhões para US$ 1,679 bilhão na mesma comparação. “Esse movimento deve se repetir em outubro. Notamos uma redução de 18,9% nas exportações neste mês, com aumento de 5,3% nas importações. Ou seja, devemos ter uma nova redução do saldo comercial”, afirmou.

Por isso, a projeção do BC para as transações correntes de outubro é de um déficit de US$ 5,8 bilhões, ante um saldo negativo de US$ 540 milhões de outubro do ano passado.

Viagens ao exterior

O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central avaliou também que o aumento do déficit na conta de serviços em setembro – para US$ 2,725 bilhões, ante US$ 2,488 bilhões no mesmo mês de 2018 – se deveu principalmente ao maior saldo negativo na conta de viagens, que vinha caindo ao longo do ano.

“As despesas das contas de viagens de brasileiros no exterior cresceram 11,9% no mês”, apontou. No mês passado, a diferença entre o que os brasileiros gastaram lá fora e o que os estrangeiros desembolsaram no Brasil foi de um saldo negativo de US$ 938 milhões. Em igual mês de 2018, o déficit nessa conta foi de US$ 816 milhões.

Segundo Rocha, o resultado de setembro não indica ainda uma reversão de tendência de queda no déficit na conta de viagens. “Não encontramos nenhuma razão específica para puxar para cima dos dados de setembro deste ano”, respondeu.

Em outubro, até o dia 22, a conta de viagens apresenta déficit de US$ 737 milhões, decorrente de receitas de US$ 302 milhões e despesas de US$ 1,038 bilhão.

Despesas com juros

O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central informou também que em outubro, até o dia 22, as despesas com juros externos somam US$ 1,504 bilhão, enquanto as remessas líquidas de lucros e dividendos chegam a US$ 1,207 bilhão.

A remessa de lucros e dividendos de companhias instaladas no Brasil para suas matrizes foi de US$ 1,365 bilhão em setembro, ante US$ 1,854 bilhão no mesmo mês do ano passado.

O BC informou também que as despesas com juros externos somaram US$ 1,301 bilhão em setembro, ante US$ 638 milhões no mesmo mês de 2018.

IDP

Rocha destacou o crescimento dos investimentos de companhias no setor de petróleo e gás em setembro. Segundo, ele, por isso a entrada de Investimentos Diretos no País (IDP) somou US$ 6,306 bilhões no mês passado, superando a projeção do BC de uma entrada de US$ 4,0 bilhões em setembro. “Também tivemos no mês passado uma quantidade maior de operações de IDP de maiores valores, superiores a US$ 1 bilhão”, completou.

De acordo com Rocha, até o dia 22 de outubro, a entrada de IDP somou US$ 5,727 bilhões. A estimativa do BC para a entrada de IDP no mês é de US$ 7,2 bilhões.

Ele informou que, até o dia 22 de outubro, a saída líquida em carteira neste mês é de US$ 4,253 bilhões, sendo um resultado negativo de US$ 2,374 bilhões em ações e fundos de investimento e um saldo também negativo de US$ 1,879 em títulos de dívida. “Na renda fixa, comportamento de portfólio é de alternância de entradas e saídas”, comentou Rocha.

O investimento estrangeiro em ações brasileiras ficou negativo em US$ 651 milhões em setembro, ante resultado negativo em US$ 1,754 bilhão em setembro de 2018.

Já o investimento em fundos de investimentos no Brasil ficou negativo em US$ 829 milhões em setembro. No mesmo mês do ano passado, ele havia sido negativo em US$ 927 milhões.

O saldo de investimento estrangeiro em títulos de renda fixa negociados no País ficou negativo em US$ 3,434 bilhões em setembro. No mesmo mês do ano passado, havia ficado negativo em US$ 774 milhões.

Taxa de rolagem

O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central informou que a taxa de rolagem total está em 56% em outubro, até o dia 22. Para títulos de longo prazo a taxa de rolagem é de 50% e para empréstimos diretos, de 57%.

A taxa de rolagem de empréstimos de médio e longo prazos captados no exterior ficou em 146% em setembro. De acordo com os números apresentados nesta quinta-feira pelo BC, a taxa de rolagem dos títulos de longo prazo ficou em 297% em setembro, enquanto os empréstimos diretos atingiram 111%.

Reforma e cessão onerosa

Rocha destacou que a aprovação da reforma da Previdência e o leilão do excedente da cessão onerosa devem ter impacto no balanço de pagamento brasileiro nos próximos meses.

Segundo ele, o leilão do excedente da cessão onerosa também deve impactar a entrada de investimentos externos no País. “Além disso, as empresas estrangeiras montam empresas no País e isso pode aumentar a entrada de Investimentos Diretos no País”, completou. “A aprovação da reforma da Previdência é importante e traz uma nova perspectiva de tendência para as despesas previdenciárias. Agora a trajetória de crescimento passa a ter um ritmo mais baixo, antecipando a estabilização da dívida pública e sua posterior redução. Essa perspectiva de País é vista como positiva para ingresso de investidores estrangeiros”, avaliou.

Fluxo cambial

O chefe do Departamento de Estatísticas do Banco Central informou também que o fluxo cambial total no País está negativo em US$ 6,771 bilhões em outubro até o dia 22. A cifra é resultado de um fluxo comercial negativo de US$ 281 milhões e de um fluxo financeiro negativo de US$ 6,490 bilhões no mesmo período.

Na conta comercial, ocorreram em outubro até o dia 22 importações de US$ 10,445 bilhões e exportações de US$ 10,174 bilhões. Dentro das exportações, foram US$ 1,475 bilhão de Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC), US$ 2,259 bilhões em Pagamento Antecipado (PA) e US$ 6,440 bilhões em demais operações. Dentro da conta financeira, ocorreram no período entradas de US$ 27,212 bilhões e saídas de US$ 33,702 bilhões.

Com o movimento verificado em outubro até o dia 22, a posição dos bancos no mercado à vista passou de vendida em US$ 24,092 bilhões no fim de setembro para vendida em US$ 24,782 bilhões agora.

Ele voltou a dizer que a aprovação da reforma da Previdência e o leilão do excedente da cessão onerosa podem aumentar o fluxo de entrada de investimentos externos no Brasil, mas evitou comentar eventuais ações do BC referente ao ingresso de dólares no País. “O BC atuará como achar necessário”, limitou-se a dizer.