Menor acusado de ‘terrorismo’ por causa da roupa é condenado à prisão na Venezuela

Um tribunal da Venezuela condenou um menor de 17 anos acusado de “terrorismo” a seis anos de prisão porque as autoridades consideraram que as roupas que ele vestia eram como as de um manifestante da oposição, informou, nesta quarta-feira (17), uma organização de defesa de presos por razões políticas.

Gabriel Rodríguez foi acusado de “terrorismo, incitação ao ódio e fechamento de vias públicas”, informou o Comitê pela Liberdade dos Presos Políticos. Ele foi detido em 9 de janeiro, quando a oposição foi às ruas em uma manifestação contra a posse do presidente Nicolás Maduro para um terceiro mandato consecutivo, prevista para o dia seguinte.

A reeleição de Maduro foi denunciada como fraudulenta pela oposição, que reivindica a vitória de seu candidato, Edmundo González. Os Estados Unidos, a União Europeia e a maioria dos países latino-americanos tampouco a reconheceram.

Rodríguez é “um rapaz que nunca se meteu em problemas (…) Não encontraram nada contra ele, simplesmente (o prenderam) por sua vestimenta”, disse no domingo Luis Méndez, avô do menor, durante um protesto em Caracas.

A Guarda Nacional o deteve em Cabudare, no estado de Lara (noroeste), quando saía do trabalho.

“Nem mesmo estava participando de nenhum protesto. Simplesmente estava passando e sua roupa chamou a atenção dos funcionários do Estado. Eles o levaram e envolveram em um caso no qual ele não tem nada a ver”, disse à AFP Andreína Baduel, que integra o comitê.

Baduel é filha de um ex-ministro da Defesa do presidente Hugo Chávez que caiu em desgraça e morreu na prisão.

Não houve ordem judicial na captura do adolescente, informou o comitê no X.

“É desproporcional, ilegal”, denunciou a organização.

De acordo com a ONG Provea, o jovem vestia casaco e bermuda pretos. Segundo a organização, ele foi acusado de parecer um “guarimbero”, termo usado pelo chavismo no poder para se referir aos manifestantes da oposição.

Além disso, o adolescente foi condenado a quatro anos de trabalho comunitário.

As manifestações de 9 de janeiro deixaram cerca de 20 detidos. Inclusive a ganhadora do prêmio Nobel da Paz María Corina Machado foi detida minutos depois de sair da clandestinidade para participar de uma marcha em Caracas.

Uma nova onda de detenções de líderes opositores ocorreu nos últimos meses, coincidindo com a mobilização militar americana no Caribe e no Pacífico.

Ao menos 902 pessoas permanecem detidas por motivos políticos na Venezuela, segundo a ONG Fórum Penal. Outras organizações estimam o número em mais de mil.

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