A menopausa é um período que marca o fim da menstruação e, consequentemente, da fertilidade. Contudo, as mudanças ocorrem anos antes, com o climatério, que inicia em torno dos 45 anos, causando impactos físicos, sociais e psicológicos, segundo Anamarya Rocha, ginecologista e sexóloga, especialista em ginecologia endócrina.

O período é marcado por transformações biológicas, devido à queda da produção endógena estrogênica, androgênica e progestagênica. “Como esses hormônios diminuem significativamente na menopausa, a mulher passa a sofrer com as ondas de calor (ou frio, em alguns casos), envelhecimento e secura da pele, ressecamento e atrofia vaginal, incontinência urinária, enfraquecimento ósseo, problemas de memória, irritabilidade, insônia, ganho de peso e consequentemente aumento do risco de doenças cardiovasculares, como diabetes e hipertensão”, pontua a médica.

Anamarya lamenta que “muitos profissionais da saúde ainda encaram com descaso as queixas das pacientes”. “Muitos, inclusive, as desencorajam a fazer a reposição hormonal, baseados em artigos científicos com muitos vieses”, expõe.

A médica defende o tratamento hormonal. “Muitas mulheres acham que o fato de não sentir absolutamente nada na menopausa descarte a necessidade da reposição hormonal. Porém, essa ideia é equivocada, já que a reposição é capaz não só de prevenir a osteoporose a longo prazo, como também evitar a doença de Alzheimer”, justifica.

Anamarya Rocha, ginecologista e sexóloga, especialista em ginecologia endócrina (Crédito:Arquivo pessoal)

A especialista cita uma pesquisa realizada pela Universidade de East Anglia, na Inglaterra, que analisou dados de um estudo de saúde cerebral já em andamento do Consórcio Europeu de Prevenção da Demência por Alzheimer.

O estudo em questão, realizado em 10 países, analisou 1.906 pessoas, sendo 1.178 mulheres, com mais de 50 anos, que não sofriam de demência. Após testes cognitivos e exames de ressonância magnética e de volumes cerebrais, concluiu que mulheres que passaram por terapia de reposição do estrogênio perdido na menopausa – tratamento comumente utilizado para controlar os sintomas desse período – tiveram melhores índices de saúde neurológica, como melhora da memória, melhor função cognitiva e maiores volumes cerebrais ao longo do tempo.

“São pouquíssimas as contraindicações para realizar a terapia de reposição hormonal. A principal delas é a mulher ter feito tratamento prévio de câncer de mama. Além disso, caso tenho histórico da doença na família, é necessário realizar uma investigação genética com o mastologista, para avaliar os riscos e benefícios de se fazer a reposição”, esclarece Anamarya.

Para um resultado efetivo, a médica destaca a necessidade de um tratamento individualizado, considerando a gravidade dos sintomas, potenciais efeitos adversos e preferências pessoais. A via de escolha também deve ser considerada, podendo ser oral, transdérmica ou por implantes subcutâneos.

“Portanto, para viver melhor durante e após a menopausa é preciso encarar esse momento com mais zelo e cuidado e menos descaso. Profissionais atualizados podem realizar a reposição hormonal com responsabilidade, proporcionando para as pacientes qualidade de vida no que corresponde a cerca de um terço de suas vidas. Logo, com o aumento da expectativa de vida, o bem-estar é a melhor proposta para a mulher moderna”, finaliza a médica.