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Longevidade não é sinônimo de talento. Quando um artista reúne essas duas características, no entanto, entra para o Olimpo dos heróis populares que atingem a imortalidade ainda em vida. Poucos nomes merecem tanto esse reconhecimento quanto o ator, diretor e produtor Clint Eastwood, que completou 90 anos em 31 de maio e segue em plena atividade. Em vez de envelhecer como um bom vinho, como sugere o clichê, ele está mais para um belo Bourbon, daqueles bem rústicos e envelhecidos em sólidas barricas de carvalho. É esse o estilo da maioria dos personagens de Clint Eastwood: um cara durão, solitário, que não aceita desaforos e vive de acordo com suas próprias regras de honra e justiça.

Clint Eastwood é hoje um ícone da cultura americana, mas no início da carreira o público achava que ele era um ator italiano. Apesar de ter iniciado a carreira em pequenas produções americanas, só foi se tornar popular com a trilogia dirigida pelo italiano Sérgio Leone. Produzidos entre 1964 e 1966, “Por um Punhado de Dólares”, “Por Uns Dólares a Mais” e “Três Homens em Conflito” criaram a persona que ele desenvolveu ao longo da carreira: o homem destemido, de olhar enigmático, que falava pouco e matava muito.

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Diretor premiado

Logo o caubói clássico deu origem a seu equivalente urbano, o xerife. “Meu Nome é Coogan”, de 1968, marcou o início da parceria com o diretor Don Siegel que lhe rendeu seu personagem mais famoso: depois do caubói e do xerife, tornou-se um temido inspetor de polícia. O primeiro da série em que interpreta Harry “Dirty” Callahan foi “Perseguidor Implacável”, de 1971. Com o sucesso, vieram outros quatro filmes e o bordão que virou sua grande marca: confrontado por criminosos, Dirty Harry disparava o “Make My Day” (“alegre o meu dia”) antes de disparar sua arma. Em 1971, também estreou na direção com “Perversa Paixão”. Ao longo da carreira, alternou entre as atividades de ator e diretor. Apesar de ser mais popular como ator, os colegas preferiram reconhecer seu talento como diretor. Recebeu duas vezes o Oscar de Melhor Filme e Melhor Diretor, por “Os Imperdoáveis” (1992) e “Menina de Ouro” (2004). Eastwood interpretou muitos agentes secretos, astronautas, soldados. Em 1995, surpreendeu o público com o papel de um fotógrafo sensível em “As Pontes de Madison”, onde contracenou com Meryl Streep.

Como diretor, sempre esteve mais à vontade para ampliar os horizontes e abordar temas mais complexos. Em 2003, expôs os fantasmas do passado no drama investigativo “Sobre Meninos e Lobos”, baseado no best-seller de Dennis Lehane; em 2008, dirigiu, atuou e produziu “Gran Torino”, um de seus filmes mais interessantes. No papel de um ex-militar preconceituoso que se sensibiliza com o drama de imigrantes asiáticos, Eastwood parecia fazer uma mea-culpa em relação a posicionamentos que tomou durante a vida. Em “A Mula”, de 2018, seu papel mais recente, interpretou um veterano da Segunda Guerra recrutado pelo cartel de drogas mexicano – uma história real que o colocou, mais uma vez, no lado dos imigrantes. Eastwood já foi acusado de muitas coisas, inclusive de estimular a agressividade e perpetuar arquétipos de violência policial que hoje explodem nas ruas das grandes cidades americanas. Nunca, porém, escondeu sua posição política. Como republicano, foi prefeito da cidade de Carmel, na Califórnia. Declarou voto em Donald Trump na última eleição, mas em fevereiro de 2020 se antecipou e anunciou que não votará nele novamente para um segundo mandato. Com esse simples gesto de humildade, mostrou que até os heróis podem se arrepender.

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