As conquistas brasileiras nos primeiros dias dos Jogos Olímpicos de 2024 engajaram o público local na disputa. Mas as derrotas ostentam um poder histórico de envolvimento e, em Paris, o principal algoz do Time Brasil é o Japão.

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Uma distância relevante separa as duas nações — os japoneses faturaram 13 medalhas e lideram o quadro geral, enquanto o Brasil, em 19º, conquistou três –, mas isso não impediu os torcedores de reagirem com bom humor às frustações competitivas.

Tudo começou no domingo, 28, quando Willian Lima foi derrotado pelo japonês Hifumi Abe na final da categoria até 66kg do judô e ficou com a prata. No mesmo dia, o Japão virou sobre o Brasil no futebol feminino e Coco Yoshizawa e Liz Akama ficaram com ouro e prata no skate, na mesma prova em que Rayssa Leal faturou o bronze.

Na segunda, 29, a seleção brasileira perdeu por 39 a 12 para as japonesas no rugby feminino, Rafaela Silva perdeu na disputa pelo bronze para Haruka Funakabo no judô feminino até 57kg e o surfista Filipe Toledo foi eliminado por Inaba Reo nas oitavas de final masculinas da modalidade.

Mas a “revanche” brasileira começou ainda no mar, onde Gabriel Medina derrotou o japonês Kanoa Igarashi — rival que o derrotou nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021 — e avançou às quartas de final do surfe masculino.

Após a bateria, as redes sociais de Igarashi ficaram repletas de comentários de brasileiros comemorando a vitória de Medina e os perfis oficiais do Time Brasil resgataram publicações do japonês, em 2021, quando ele provocou Medina após eliminá-lo em Tóquio.

O movimento digital foi reforçado pelo Time Brasil, que “bloqueou” a delegação japonesa nas redes sociais.

Embora os brasileiros sigam atrás dos japoneses em Paris, a virada foi concretizada no ambiente digital, onde usuários brasileiros passaram a sugerir que outras práticas — como o cinema e os desfiles de Carnaval — fossem consideradas esportes olímpicos para que o Brasil pudesse superar o país asiático:

Nesta terça, 30, Marcus D’Almeida derrotou o japonês Fumiya Sato por 7 a 1 no tiro com arco e rendeu lembranças de usuários brasileiros à derrota vexatória contra a Alemanha, na Copa do Mundo de 2014, pelo mesmo placar.

A ‘cereja do bolo’ da revanche brasileira explorou a culinária japonesa, fenômeno de popularidade no Brasil, onde a comunidade de origem asiática é grande. Em restaurantes japoneses, chama atenção a quantidade de adaptações inusitadas promovidas nas receitas típicas da cultura de origem: a partir dos cardápios locais, usuários brasileiros encontraram ‘vinganças’ gastronômicas na forma de temakis de batata frita, pizzas de sushi e sanduíches de peixe cru.

Além de demonstrar a popularidade digital dos Jogos Olímpicos, essa nova rivalidade destaca uma forma contemporânea de se envolver com as disputas esportivas: a torcida digital.