Em uma campanha curta e com poucos recursos, falou melhor com o eleitor quem soube ser sucinto e afiado. Nada traduz melhor a “ligeireza” dessas eleições do que o “meme” (imagem ou frase bem-humorada que se espalha na internet). Foram eles que ajudaram a construir e desconstruir candidaturas e consolidar percepções sobre esse ou aquele candidato – tanto faz se na resolvida disputa de São Paulo ou no polarizado segundo turno do Rio.

Em São Paulo, um meme de John Travolta (em Pulp Fiction) procurando a candidata Luiza Erundina (PSOL) foi parar até no Horário Eleitoral Gratuito – assim como Flávio Bolsonaro (PSC) passando mal durante o debate na Band inspirou muitas criações no Rio.

“Trata-se, sem dúvida de uma ferramenta de disseminação de ideias. Eles são recados pontuais – já que a vida útil de um meme é curtíssima. A maioria ‘vive’ por poucas horas; os muito bons vão ser compartilhados por dois dias; e os fantásticos vão entrar naquelas listas de ‘Os 10 memes que você precisa conhecer…'”, comenta o professor de inovação e tecnologia da ESPM-Rio Fabro Steibel.

No segundo turno da disputa para a prefeitura do Rio, com dois candidatos que representam visões de mundo opostas, os memes tendem a reforçar os estereótipos de cada um. Por exemplo, contra Marcelo Freixo (PSOL) sobram montagens abordando a legalização da maconha. Já outros memes ligam Marcelo Crivella (PRB) à prática do dízimo em igrejas evangélicas.

“Sem dúvida, os memes são uma forma de fazer política e de militância. No Brasil, eles funcionam melhor do que em outros países porque o eleitor brasileiro ‘se emociona’ mais fácil, gosta de rir ou chorar. Não tem muito disposição para o debate mais teórico ou aprofundado”, diz o coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic), da Universidade Federal do Espírito Santo.

Para o coordenador de mídias digitais da campanha do prefeito eleito de São Paulo, João Doria (PSDB), Daniel Braga, os memes ‘de oposição’, como um suposto logo da capital feito por Romero Britto, só ajudaram a reforçar a imagem do candidato. “Na verdade, são memes que pregam para eleitores já convertidos. Ninguém mudou de voto porque viu o Doria de cashmere.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.