Dirigente do Banco Central Europeu (BCE) e presidente do BC da Croácia, Boris Vujcic afirmou que não houve uma “guinada dovish” na postura dos dirigentes na última decisão monetária, ao ser questionado em entrevista para a Bloomberg TV.

“Acredito que o estado do mercado já tem sido dovish o suficiente. Lagarde disse simplesmente que: se você é dependente de dados, será guiado por eles e não pelas datas. Os dados que determinarão nossos próximos passos”, defendeu o dirigente.

Ele também descartou a possibilidade de seguir um eventual relaxamento monetário do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), como esperado por alguns participantes do mercado financeiro.

Para Vujcic, a recente precificação sobre início de cortes de juros do BCE a partir de março “é um ponto de preocupação”.

Ele considera a perspectiva como prematura e responsável pelo relaxamento das condições financeiras “muito mais cedo” do que o desejado pelo banco central.

O dirigente reiterou que é necessário ter paciência neste momento e manter os juros restritivos até que a inflação confirme tendência de queda rumo à meta de 2%, antes de pensar em outro movimento da política monetária. “Não vejo quais danos poderíamos causar para a economia europeia ao ter mais cautela e aguardar”, comentou ele, acrescentando que não há risco de recessão profunda na zona do euro. “O cenário atual representa mais uma estagnação e vemos possibilidade de recuperação ao longo do ano”.

Vujcic vê um bom desempenho do processo de desinflação, com “transmissão suave” da política monetária e bom funcionamento dos mercados em geral. “É um bom cenário, que gostamos de ver”, pontuou. “Mas ainda precisamos ver o comportamento dos salários e se haverá algum choque nas cadeias de oferta.”

Entretanto, o dirigente já pensa no ritmo ideal para os cortes de juros. “Quando começarem, provavelmente serão em torno de 25 pontos-base (pb), mas há possibilidade de fazer mais, se for exigido pelos dados”, afirmou.

Questionado sobre a presidente do BCE, Christine Lagarde, Vujcic disse que o importante é como o conselho trabalha sob sua gestão e que ela tem sido uma boa líder, não vendo problemas na forma como o conselho opera.

Na última semana, uma reportagem do Politico revelou que alguns funcionários do banco central estariam insatisfeitos com a gestão da presidente. “Estou feliz com a presidência de Lagarde”, enfatizou.